Francesco Rosi, assistente de Luchino Visconti

A Terra Treme, para mim, foi o início… Foi o contato com o cinema, pela primeira vez. Eu sempre quis fazer cinema, mas comecei com o teatro. Fui assistente de direção do enorme diretor de teatro Ettore Giannini. Só que eu queria cinema. E para fazer cinema, fiz figuração, pequenas coisas e, finalmente, em 46 ou 47, apareceu essa chance de ir com Visconti, que tinha reunido uma equipe pequena para filmar um documentário. Ele sabia que faria um filme, mas partiu para fazer um documentário. Mesmo porque o dinheiro era pouco, então a equipe era limitadíssima. Então, na aldeia de Aci Trezza, perto de Catânia, onde ficamos seis meses, a pequena equipe, depois, foi aumentada porque, a certa altura, oficialmente, soubemos que era um filme, que devia ser um filme, mas que, de início, seria um documentário. E cada um de nós fazíamos várias coisas. Os assistentes de direção éramos eu e Franco Zeffirelli. E tínhamos tarefas bem específicas, mesmo porque Visconti era muito rigoroso, exigente no trabalho.

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Visconti fazia o roteiro dia a dia, e o inventava todos os dias, e os diálogos ele também fazia dia a dia com os atores improvisados, todos pescadores de Aci Trezza. As duas moças [que no filme fazem parte da família dos protagonistas] eram filhas do dono da hospedagem onde comíamos. Tiravam os figurinos de cena e punham os aventais para nos servir e voltávamos a filmar.

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A gratidão que tenho para com ele [Visconti] é grande por causa desse método de trabalho que ele nos transmitia, um método feito de seriedade, de rigor… Um método de reprodução da realidade, mas de uma realidade diferente da do neorrealismo italiano. Enquanto neste último Rossellini fazia que a realidade terminasse na imagem, na tela, exatamente como era – como era até certo ponto, porque depois Rossellini elaborava a realidade de modo maravilhoso -, mas ele não se subtraía ao fascínio da casualidade. Já em Visconti, jamais havia casualidade. Visconti estabelecia rigorosamente seus enquadramentos, a atuação dentro do enquadramento, isto é, havia um controle capilar, contínuo.

Francesco Rossi, cineasta, em depoimento presente na edição em DVD de A Terra Treme (Coleção Grandes Diretores do Cinema, Folha de S. Paulo, Versátil Home Vídeo). Acima, imagem de A Terra Treme; abaixo, uma foto de bastidores e outra do mesmo filme.

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