O cinema é uma das três linguagens universais, segundo o grande cineasta Frank Capra. As outras duas são a música e a matemática. O que torna essa arte tão importante e tão mágica, capaz de atravessar décadas, fundar escolas, movimentos, dar vez a monumentos reverenciados e nunca esquecidos? Sua linguagem, capaz de agregar outras artes, sem dúvida continua, ao longo de décadas, afirmando seu poder de contar histórias, de se manter no nível mais básico da relação possível com o espectador.

A lista abaixo vem sendo preparada há anos. E não chega ao fim. É mutável, aberta a transformações à medida que o blogueiro segue vendo – e revendo – filmes. Não há regra exata para fazer listas, muito menos uma forma fácil de explicar por que alguns filmes atraem mais do que outros: no fundo, os motivos que levam à compilação terminam sempre no gosto pessoal. Reduzir mais de um século de filmes a 250 títulos é tarefa enorme. Mesmo obras aparentemente imperfeitas podem ganhar destaque. E é difícil escapar aos medalhões.
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“Ver precede as palavras”, diz o crítico de arte John Berger. É preciso ver filmes, hoje e sempre, sem pré-julgamentos ou vícios. A lista abaixo reserva o que há de melhor em matéria de cinema, e nem de longe pretende ser definitiva. Boa viagem a todos! O que vem a seguir é o cinema!
250) O Pão Nosso de Cada Dia, de F.W. Murnau
249) Desafio à Corrupção, de Robert Rossen
248) Antes da Revolução, de Bernardo Bertolucci
247) Johnny Guitar, de Nicholas Ray
246) Deus Sabe Quanto Amei, de Vincente Minnelli
245) O Discreto Charme da Burguesia, de Luis Buñuel
244) Vozes Distantes, de Terence Davies
243) E.T. – O Extraterrestre, de Steven Spielberg
242) Vidas Amargas, de Elia Kazan
241) O Silêncio do Lago, de George Sluizer
240) Anatomia de um Crime, de Otto Preminger
239) Um Condenado à Morte Escapou, de Robert Bresson
238) Um Lugar ao Sol, de George Stevens
237) Os Esquecidos, de Luis Buñuel
236) Amor de Perdição, de Manoel de Oliveira
235) Playtime – Tempo de Diversão, de Jacques Tati
234) Palavras ao Vento, de Douglas Sirk
233) Rififi, de Jules Dassin
232) Domingo Maldito, de John Schlesinger
231) O Silêncio dos Inocentes, de Jonathan Demme
230) O Sopro no Coração, de Louis Malle
229) Vida Cigana, de Emir Kusturica
228) Crisântemos Tardios, de Kenji Mizoguchi
227) Satyricon de Fellini, de Federico Fellini
226) A Longa Viagem de Volta, de John Ford
225) Caminhos Perigosos, de Martin Scorsese
224) Close-Up, de Abbas Kiarostami
223) Sob o Sol de Satã, de Maurice Pialat
222) O Medo Devora a Alma, de Rainer Werner Fassbinder
221) A Mãe e a Puta, de Jean Eustache
220) O Açougueiro, de Claude Chabrol
219) A Cruz dos Anos, de Leo McCarey
218) Nostalgia, de Andrei Tarkovski
217) A Cidade das Tristezas, de Hou Hsiao-hsien
216) A Morte Num Beijo, de Robert Aldrich
215) O Rio Sagrado, de Jean Renoir
214) Tudo o que o Céu Permite, de Douglas Sirk
213) Os Eternos Desconhecidos, de Mario Monicelli
212) Amargo Pesadelo, de John Boorman
211) A Casa de Bambu, de Samuel Fuller
210) Poesia, de Lee Chang-dong
209) Acossado, de Jean-Luc Godard
208) Meu Nome é… Tonho, de Ozualdo Ribeiro Candeias
207) Cinzas que Queimam, de Nicholas Ray e Ida Lupino
206) Cabaret, de Bob Fosse
205) Pulp Fiction – Tempo de Violência, de Quentin Tarantino
204) Agonia e Glória, de Samuel Fuller
203) Um Dia no Campo, de Jean Renoir
202) A Mocidade Lincoln, de John Ford
201) A Saga de Gösta Berling, de Mauritz Stiller
200) Solaris, de Andrei Tarkovski
199) A Ceia dos Acusados, de W.S. Van Dyke
198) O Testamento do Dr. Mabuse, de Fritz Lang
197) Rua 42, de Lloyd Bacon
196) Bancando o Águia, de Buster Keaton
195) A Colecionadora, de Eric Rohmer
194) Narciso Negro, de Michael Powell e Emeric Pressburger
193) Fuga do Passado, de Jacques Tourneur
192) Núpcias de Escândalo, de George Cukor
191) Doutor Fantástico, de Stanley Kubrick
190) A Fraternidade é Vermelha, de Krzysztof Kieslowski
189) Carta de uma Desconhecida, de Max Ophüls
188) Alma em Suplício, de Michael Curtiz
187) Vinhas da Ira, de John Ford
186) Fúria Sanguinária, de Raoul Walsh
185) As Oito Vítimas, de Robert Hamer
184) Um Homem com uma Câmera, de Dziga Vertov
183) Ran, de Akira Kurosawa
182) Amarcord, de Federico Fellini
181) Curva do Destino, de Edgar G. Ulmer
180) O Vampiro, de Carl Theodor Dreyer
179) Stalker, de Andrei Tarkovski
178) Agora Seremos Felizes, de Vincente Minnelli
177) Interlúdio, de Alfred Hitchcock
176) Jejum de Amor, de Howard Hawks
175) O Desprezo, de Jean-Luc Godard
174) Marcha Nupcial, de Erich von Stroheim
173) O Império dos Sentidos, de Nagisa Oshima
172) Os Companheiros, de Mario Monicelli
171) A Noite de São Lourenço, de Paolo Taviani e Vittorio Taviani
170) Nana, de Jean Renoir
169) Mistérios de Lisboa, de Raoul Ruiz
168) Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos
167) Os Bons Companheiros, de Martin Scorsese
166) Terra, de Aleksandr Dovzhenko
165) Cidade dos Sonhos, de David Lynch
164) O Gabinete do Dr. Caligari, de Robert Wiene
163) Terra de um Sonho Distante, de Elia Kazan
162) A Última Gargalhada, de F.W. Murnau
161) Orfeu, de Jean Cocteau
160) A Caixa de Pandora, de Georg Wilhelm Pabst
159) Blade Runner – O Caçador de Androides, de Ridley Scott
158) As Coisas Simples da Vida, de Edward Yang
157) O Balão Vermelho, de Albert Lamorisse
156) O Prazer, de Max Ophüls
155) A Viúva Alegre, de Erich von Stroheim
154) E o Vento Levou, de Victor Fleming
153) Noites de Cabiria, de Federico Fellini
152) O Enforcamento, de Nagisa Oshima
151) Uma Mulher Sob Influência, de John Cassavetes
150) Pérfida, de William Wyler
149) Luzes da Cidade, de Charles Chaplin
148) Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho
147) Dias de Ira, de Carl Theodor Dreyer
146) Cada um Vive Como Quer, de Bob Rafelson
145) As Harmonias de Werckmeister, de Béla Tarr
144) Paixão de Fortes, de John Ford
143) O Exército das Sombras, de Jean-Pierre Melville
142) Cinzas no Paraíso, de Terrence Malick
141) A Força do Mal, de Abraham Polonsky
140) A Viagem dos Comediantes, de Theodoros Angelopoulos
139) Soberba, de Orson Welles
138) Noite e Neblina no Japão, de Nagisa Oshima
137) O Amigo Americano, de Wim Wenders
136) Um Dia Quente de Verão, de Edward Yang
135) O Mágico de Oz, de Victor Fleming
134) Napoleão, de Abel Gance
133) Era Uma Vez no Oeste, de Sergio Leone
132) Andrei Rublev, de Andrei Tarkovski
131) Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, de Woody Allen
130) Sorgo Vermelho, de Zhang Yimou
129) Bandidos em Orgosolo, de Vittorio De Seta
128) Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick
127) S. Bernardo, de Leon Hirszman
126) Diabo a Quatro, de Leo McCarey
125) Viver a Vida, de Jean-Luc Godard
124) A Bela Intrigante, de Jacques Rivette
123) Trono Manchado de Sangue, de Akira Kurosawa
122) Noite Vazia, de Walter Hugo Khouri
121) Short Cuts – Cenas da Vida, de Robert Altman
120) Onde Começa o Inferno, de Howard Hawks
119) Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcock
118) A Espada da Maldição, de Kihachi Okamoto
117) Viagem à Itália, de Roberto Rossellini
116) A Roda da Fortuna, de Vincente Minnelli
115) Salário do Medo, de Henri-Georges Clouzot
114) Portal do Inferno, de Teinosuke Kinugasa
113) Rede de Intrigas, de Sidney Lumet
112) Uma Rua Chamada Pecado, de Elia Kazan
111) Lola Montes, de Max Ophüls
110) A Marca da Maldade, de Orson Welles
109) Rastros de Ódio, de John Ford
108) O Intendente Sansho, de Kenji Mizoguchi
107) O Tesouro de Sierra Madre, de John Huston
106) Amores de Apache, de Jacques Becker
105) O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman
104) Através das Oliveiras, de Abbas Kiarostami
103) Laura, de Otto Preminger
102) Ervas Flutuantes, de Yasujiro Ozu
101) Vá e Veja, de Elem Klimov
100) Crash – Estranhos Prazeres, de David Cronenberg
99) Veludo Azul, de David Lynch
98) A Última Sessão de Cinema, de Peter Bogdanovich
97) Psicose, de Alfred Hitchcock
96) Neste Mundo e no Outro, de Michael Powell e Emeric Pressburger
95) Viver, de Akira Kurosawa
94) Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola
93) Mulheres da Noite, de Kenji Mizoguchi
92) O Pior dos Pecados, de John Boulting
91) Shoah, de Claude Lanzmann
90) Gritos e Sussurros, de Ingmar Bergman
89) Inverno de Sangue em Veneza, de Nicolas Roeg
88) Pixote – A Lei do Mais Fraco, de Hector Babenco
87) Eu Sou Cuba, de Mikhail Kalatozov
86) A Mulher de Areia, de Hiroshi Teshigahara
85) Quanto Mais Quente Melhor, de Billy Wilder
84) Terra em Transe, de Glauber Rocha
83) De Punhos Cerrados, de Marco Bellocchio
82) Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade
81) A Carruagem Fantasma, de Victor Sjöström
80) O Bandido Giuliano, de Francesco Rosi
79) Pinóquio, de Ben Sharpsteen e Hamilton Luske
78) Harakiri, de Masaki Kobayashi
77) O Boulevard do Crime – Primeira e Segunda Época, de Marcel Carné
76) A Palavra, de Carl Theodor Dreyer
75) No Silêncio da Noite, de Nicholas Ray
74) Taxi Driver, de Martin Scorsese
73) Contrastes Humanos, de Preston Sturges
72) A Aventura, de Michelangelo Antonioni
71) Meu Ódio Será Sua Herança, de Sam Peckinpah
70) A Conversação, de Francis Ford Coppola
69) Obsessão, de Luchino Visconti
68) Touro Indomável, de Martin Scorsese
67) Os Incompreendidos, de François Truffaut
66) Blow-Up – Depois Daquele Beijo, de Michelangelo Antonioni
65) Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas, de Arthur Penn
64) A Tortura do Medo, de Michael Powell
63) Tabu, de F.W. Murnau
62) O Espírito da Colmeia, de Victor Erice
61) Nashville, de Robert Altman
60) Ladrão de Alcova, de Ernst Lubitsch
59) São Paulo Sociedade Anônima, de Luiz Sérgio Person
58) A Malvada, de Joseph L. Mankiewicz

57) Rio Vermelho, de Howard Hawks
56) Os Sete Samurais, de Akira Kurosawa
55) Pacto de Sangue, de Billy Wilder
54) A Felicidade Não se Compra, de Frank Capra
53) O Samurai, de Jean-Pierre Melville
52) O Poderoso Chefão – Parte 2, de Francis Ford Coppola
51) O Terceiro Homem, de Carol Reed
50) A Grande Testemunha, de Robert Bresson
49) À Beira do Abismo, de Howard Hawks
48) Pai e Filha, de Yasujiro Ozu
47) Tempos Modernos, de Charles Chaplin
46) Desejos Proibidos, de Max Ophüls
45) Cantando na Chuva, de Gene Kelly e Stanley Donen
44) O Homem das Novidades, de Edward Sedgwick e Buster Keaton
43) O Anjo Exterminador, de Luis Buñuel
42) No Tempo das Diligências, de John Ford
41) Aguirre, A Cólera dos Deuses, de Werner Herzog
40) O Decálogo, de Krzysztof Kieslowski
39) Hiroshima, Meu Amor, de Alain Resnais
38) A Canção da Estrada, de Satyajit Ray
37) A Turba, de King Vidor
36) Pickpocket, de Robert Bresson
35) O Conformista, de Bernardo Bertolucci
34) M, o Vampiro de Düsseldorf, de Fritz Lang
33) 2001: Uma Odisseia na Espaço, de Stanley Kubrick
32) O Falcão Maltês, de John Huston
31) O Mensageiro do Diabo, de Charles Laughton
30) Sindicato de Ladrões, de Elia Kazan
29) A Doce Vida, de Federico Fellini
28) O Atalante, de Jean Vigo
27) Metrópolis, de Fritz Lang
26) Lawrence da Arábia, de David Lean
25) Contos da Lua Vaga, de Kenji Mizoguchi
24) Ladrões de Bicicleta, de Vittorio De Sica
23) Chinatown, de Roman Polanski
22) Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha
21) A Grande Ilusão, de Jean Renoir

20) Cinzas e Diamantes, de Andrzej Wajda
19) Quando os Homens são Homens, de Robert Altman
18) Crepúsculo dos Deuses, de Billy Wilder
17) Ouro e Maldição, de Erich von Stroheim
16) Limite, de Mário Peixoto
15) Encouraçado Potemkin, de Sergei M. Eisenstein
14) A Paixão de Joana D’Arc, de Carl Theodor Dreyer
13) Rashomon, de Akira Kurosawa
12) Quando Duas Mulheres Pecam, de Ingmar Bergman
11) O Poderoso Chefão, de Francis Ford Coppola
10) A General, de Buster Keaton e Clyde Bruckman
A comédia de Buster Keaton é física. Baseia-se às vezes no risco, no vão de milímetros que se vê – ou não – entre o corpo e as estruturas. Entre tantos filmes marcantes, é com A General que o realizador chega ao máximo: a história de amor entre o homem e a máquina, entre o herói (Keaton, claro) e uma garota indefesa. A ação dá-se sobre os trilhos. O protagonista lança pedaços de madeira em outros pelo caminho, para assim continuar sua viagem e salvar a amada. Ninguém pode pará-lo. E ainda que o espectador saiba de sua iminente vitória, sobram motivos para se emocionar com os feitos técnicos de um cinema que não se faz mais.
9) A Regra do Jogo, de Jean Renoir
Comédia realizada à beira da Segunda Guerra Mundial, passada em um castelo isolado, com uma festa para convidados, um aviador apaixonado, seu amigo falador (o próprio Renoir) e outras figuras curiosas que se juntam para desfrutar de tardes de caça, teatro regado a fantasias e adultérios – tudo entre os criados e a alta classe. Roteiro brilhante repleto de voltas, sem protagonistas e com poucas – talvez duas – personagens que se salvam da completa maldade. Um estudo do comportamento humano cheio de malícia e frivolidade. Após o extraordinário A Grande Ilusão, Renoir ainda conseguiu se superar.
8) Um Corpo que Cai, de Alfred Hitchcock
Há quem prefira Psicose ou A Sombra de uma Dúvida. Hitchcock fez 15 ou 20 filmes que podem ser chamados de grande, quatro ou cinco obras-primas. Em Um Corpo que Cai, retém-se à obsessão de um homem por uma mulher morta, depois pelo modelo vivo que lhe dá forma. Seu medo de altura permite ao mestre investir nos efeitos de câmera, no “esgarçamento” da imagem, na revelação da profundida. James Stewart exprime grandeza comum. A Kim Novak basta ficar em silêncio. A história de amor é sobre o próprio cinema: o homem que tenta modificar o universo e dar vez às suas fantasias.
7) Contos de Tóquio, de Yasujiro Ozu
O mestre japonês fez diversos filmes considerados “semelhantes”. Em geral, obras que tratam de relações familiares, pais e filhos, tradições quebradas, gente cujos conflitos parecem nunca abalar demais a tela. Adaptado à forma de Ozu, o espectador certamente reconhecerá o autor, filme a filme, e a descoberta de Contos de Tóquio pode levar àquilo que fez de melhor, também ao seu trabalho mais famoso. É sobre a distância entre o casal de senhores e seus filhos da cidade grande. A visita dos mais velhos revela o abismo que separa essas pessoas. Depois, devido a uma morte, são os filhos que deverão visitar os pais.
6) A Batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo
O realismo, as imagens granuladas, o calor do momento e a transpiração de pessoas que viveram a situação são alguns dos ingredientes que ajudaram essa obra-prima do cinema político. Pontecorvo fez alguns filmes de sucesso, mas nada à altura. Consciente da dificuldade de resumir a batalha em marcha da qual trata, nos eventos que levam à independência da Argélia, o cineasta prefere não tomar lado, sem transformar os colonizadores em vilões cruéis ou os oprimidos em heróis acabados e bondosos. O homem sob tortura, nos momentos iniciais, dá a ideia do que vem pela frente.
5) Casablanca, de Michael Curtiz
Acidentes acontecem. Casablanca, em certa medida, foi um perfeito acidente: a conjugação de diversos fatores que levaram a um filme impagável, obra de estúdio emocionante e engraçada, política e otimista. Seu protagonista, Rick (Humphrey Bogart), está ilhado no Marrocos, não tão distante dos problemas do mundo. A certa altura, todos vão ao seu restaurante, ponto de encontro certo de bandidos, inocentes e patriotas. É para lá que vai sua amada, por quem foi deixado em Paris. Ela, Ilsa (Ingrid Bergman), retorna com uma velha canção – “As Time Goes By” – e continua encantadora, irrecusável.
4) Oito e Meio, de Federico Fellini
Não havia feito nem dez filmes. Ali, à beira do oitavo, com um meio pelo caminho, Fellini decidiu representar sua crise criativa: filmou, com seu toque reconhecível, a própria história. Fez sua obra maior, o caminhar de um certo Guido Anselmi (Marcello Mastroianni), que se refugia em um spa e nos próprios sonhos. Em seguida, é revisitado pelas lembranças, pela família, pela Igreja, pelas mulheres corpulentas que percorrem seu harém. É onde empunha um chicote para então colocar ordem no reino e controlar o motim de suas amantes. Como todo autor, Fellini parecia se repetir. Com tamanha beleza e poder, quem se importa?
3) Cidadão Kane, de Orson Welles
O jornalista persegue a palavra. Nesse caso, uma só. Com ela talvez possa entender o homem em questão, o protagonista de Cidadão Kane, magnata das comunicações. A palavra, claro, é Rosebud. Seu significado será dado apenas no encerramento – ou não. Significa ainda mais, algo que o homem perdeu e não encontrou. Algo que o cinema de Orson Welles – o menino prodígio condenado pela ousadia do primeiro filme, contra um magnata da imprensa americana – encarregou-se de imortalizar. Rosebud, no fundo, é a carne que ultrapassa o mito, o humanismo que sobrepõe as manchetes do jornal, as notícias em marcha.
2) Aurora, de F.W. Murnau
Segundo o crítico Sérgio Alpendre, nenhum estudante de cinema deveria tocar em um câmera antes de assistir a esse filme. O melhor trabalho de Murnau, aqui em Hollywood, com movimentos de câmera perfeitos e, à época, aparentemente leves e ousados. Ao centro, um homem decide matar a mulher para ficar com a amante. Seu arrependimento leva à jornada de reconquista amorosa, ainda na ausência do som, com a cena inesquecível da fusão de imagens enquanto o casal caminha entre os veículos, pela cidade grande. É quando o mundo para, quando o cinema dá uma de suas demonstrações de poder.
1) O Leopardo, de Luchino Visconti
Muitos cineastas, em condições possíveis, tentaram fazer filmes perfeitos. Visconti conseguiu. Baseado na obra de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, com fotografia de Giuseppe Rotunno e música de Nino Rota, Visconti dirige como se pintasse quadros. Os planos mais belos do cinema, a maior parte inesquecível. Lancaster é o homem do passado, o príncipe que se guarda para a caminhada final; Cardinale está bela como nunca; Delon como o cínico necessário, representação dos novos tempos, pronto para abocanhar a bela. Um baile ocupa praticamente um terço do todo. Obra-prima, ainda que seja redundante dizer.
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Cineastas mais presentes na lista
- Seis filmes: John Ford.
- Cinco filmes: Akira Kurosawa, Federico Fellini, Jean Renoir.
- Quatro filmes: Alfred Hitchcock, Andrei Tarkovski, Carl Theodor Dreyer, Elia Kazan, Francis Ford Coppola, F.W. Murnau, Howard Hawks, Kenji Mizoguchi, Martin Scorsese, Max Ophüls.
- Três filmes: Billy Wilder, Buster Keaton, Erich von Stroheim, Fritz Lang, Ingmar Bergman, Jean-Luc Godard, Luis Buñuel, Michael Powell, Nagisa Oshima, Nicholas Ray, Orson Welles, Robert Altman, Robert Bresson, Stanley Kubrick, Vincente Minnelli, Yasujiro Ozu.
- Dois filmes: Abbas Kiarostami, Bernardo Bertolucci, Charles Chaplin, David Lynch, Douglas Sirk, Edward Yang, Emeric Pressburger, Glauber Rocha, Jean-Pierre Melville, John Huston, Krzysztof Kieslowski, Leo McCarey, Luchino Visconti, Mario Monicelli, Michael Curtiz, Michelangelo Antonioni, Otto Preminger, Samuel Fuller, Victor Fleming.
Curiosidades
- Em toda a lista, há 34 filmes realizados após os anos 80 e 15 realizados após os 90.
- Em toda a lista, há cinco filmes realizados após os anos 2000 e dois após 2010.
- Entre os 100 primeiros da lista, há seis filmes realizados após os anos 80 e um após os 90.
- Não há nenhum filme realizado após os anos 2000 entre os 100 primeiros.
- Não há nenhum filme realizado após os anos 70 entre os dez primeiros.

SOBRE O AUTOR:
Rafael Amaral é crítico de cinema e jornalista (conheça seu trabalho)
Veja também:
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Os 100 melhores filmes dos anos 70
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