O cinema é uma das três linguagens universais, segundo o grande cineasta Frank Capra. As outras duas são a música e a matemática. O que torna essa arte tão importante e tão mágica, capaz de atravessar décadas, fundar escolas, movimentos, dar vez a monumentos reverenciados e nunca esquecidos? Sua linguagem, capaz de agregar outras artes, sem dúvida continua, ao longo de décadas, afirmando seu poder de contar histórias, de se manter no nível mais básico da relação possível com o espectador.
A lista abaixo vem sendo preparada há anos. E não chega ao fim. É mutável, aberta a transformações à medida que o crítico Rafael Amaral segue vendo – e revendo – filmes. Não há regra exata para fazer listas, muito menos uma forma fácil de explicar por que alguns filmes atraem mais do que outros: no fundo, os motivos que levam à compilação terminam sempre no gosto pessoal. Reduzir mais de um século de filmes a 300 títulos é tarefa enorme. Mesmo obras aparentemente imperfeitas podem ganhar destaque. E é difícil escapar aos medalhões.
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“Ver precede as palavras”, diz o crítico de arte John Berger. É preciso ver filmes, hoje e sempre, sem pré-julgamentos ou vícios. A lista abaixo reserva o que há de melhor em matéria de cinema, e nem de longe pretende ser definitiva. Boa viagem a todos! O que vem a seguir é o cinema!
300) A Marca do Assassino, de Seijun Suzuki
299) Viridiana, de Luis Buñuel
298) O Piano, de Jane Campion
297) As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant, de Rainer Werner Fassbinder
296) Minha Vingança, de Shohei Imamura
295) Meu Tio da América, de Alain Resnais
294) O Garoto Selvagem, de François Truffaut
293) Sem Teto Nem Lei, de Agnès Varda
292) Clamor do Sexo, de Elia Kazan
291) Jeanne Dielman, de Chantal Akerman
290) Chess of the Wind, de Mohammad Reza Aslani
289) Memórias do Subdesenvolvimento, de Tomás Gutiérrez Alea
288) Em Busca do Ouro, de Charles Chaplin
287) Os Vivos e os Mortos, de John Huston
286) Rocco e Seus Irmãos, de Luchino Visconti
285) A Ascensão, de Larisa Shepitko
284) A Embriaguez do Sucesso, de Alexander Mackendrick
283) O Ano Passado em Marienbad, de Alain Resnais
282) Cerimônias, de Nagisa Oshima
281) Os Imperdoáveis, de Clint Eastwood
280) O Padre e a Moça, de Joaquim Pedro de Andrade
279) Sedução da Carne, de Luchino Visconti
278) As Três Máscaras do Terror, de Mario Bava
277) A Hora do Lobo, de Ingmar Bergman
276) Um Estranho no Ninho, de Milos Forman
275) Os Fuzis, de Ruy Guerra
274) Umberto D., de Vittorio De Sica
273) Guerra e Humanidade, de Masaki Kobayashi
272) Regeneração, de Raoul Walsh
271) Os Sapatinhos Vermelhos, de Michael Powell e Emeric Pressburger
270) Senhorita Júlia, de Alf Sjöberg
269) Sem Novidade no Front, de Lewis Milestone
268) Era Uma Vez na América, de Sergio Leone
267) O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla
266) Nanook, o Esquimó, de Robert J. Flaherty
265) Os Eleitos, de Philip Kaufman
264) Filho Único, de Yasujiro Ozu
263) A Cor da Romã, de Sergei Parajanov
262) O Último Refúgio, de Raoul Walsh
261) O Dinheiro, de Robert Bresson
260) Uma Vida, de Alexandre Astruc
259) Onibaba – A Mulher Demônio, de Kaneto Shindo
258) Desencanto, de David Lean
257) Paris, Texas, de Wim Wenders
256) Solidão, de Pál Fejös
255) A Sombra de uma Dúvida, de Alfred Hitchcock
254) O Pão Nosso de Cada Dia, de F.W. Murnau
253) Amar e Morrer, de Douglas Sirk
252) Desafio à Corrupção, de Robert Rossen
251) Antes da Revolução, de Bernardo Bertolucci
250) Johnny Guitar, de Nicholas Ray
249) Deus Sabe Quanto Amei, de Vincente Minnelli
248) O Discreto Charme da Burguesia, de Luis Buñuel
247) Vozes Distantes, de Terence Davies
246) E.T. – O Extraterrestre, de Steven Spielberg
245) Vidas Amargas, de Elia Kazan
244) O Silêncio do Lago, de George Sluizer
243) Anatomia de um Crime, de Otto Preminger
242) Um Condenado à Morte Escapou, de Robert Bresson
241) Um Lugar ao Sol, de George Stevens
240) Os Esquecidos, de Luis Buñuel
239) Amor de Perdição, de Manoel de Oliveira
238) Playtime – Tempo de Diversão, de Jacques Tati
237) Palavras ao Vento, de Douglas Sirk
236) Rififi, de Jules Dassin
235) Domingo Maldito, de John Schlesinger
234) O Silêncio dos Inocentes, de Jonathan Demme
233) O Sopro no Coração, de Louis Malle
232) Vida Cigana, de Emir Kusturica
231) Crisântemos Tardios, de Kenji Mizoguchi
230) Satyricon de Fellini, de Federico Fellini
229) A Longa Viagem de Volta, de John Ford
228) Caminhos Perigosos, de Martin Scorsese
227) Close-Up, de Abbas Kiarostami
226) Sob o Sol de Satã, de Maurice Pialat
225) O Medo Devora a Alma, de Rainer Werner Fassbinder
224) A Mãe e a Puta, de Jean Eustache
223) O Açougueiro, de Claude Chabrol
222) A Cruz dos Anos, de Leo McCarey
221) Nostalgia, de Andrei Tarkovski
220) A Cidade das Tristezas, de Hou Hsiao-hsien
219) A Morte Num Beijo, de Robert Aldrich
218) O Rio Sagrado, de Jean Renoir
217) Tudo o que o Céu Permite, de Douglas Sirk
216) Os Eternos Desconhecidos, de Mario Monicelli
215) Amargo Pesadelo, de John Boorman
214) A Casa de Bambu, de Samuel Fuller
213) Poesia, de Lee Chang-dong
212) Acossado, de Jean-Luc Godard
211) Meu Nome é… Tonho, de Ozualdo Ribeiro Candeias
210) Cinzas que Queimam, de Nicholas Ray e Ida Lupino
209) Cabaret, de Bob Fosse
208) Pulp Fiction – Tempo de Violência, de Quentin Tarantino
207) O Anjo das Ruas, de Frank Borzage
206) Agonia e Glória, de Samuel Fuller
205) Um Dia no Campo, de Jean Renoir
204) A Mocidade Lincoln, de John Ford
203) A Saga de Gösta Berling, de Mauritz Stiller
202) Solaris, de Andrei Tarkovski
201) A Ceia dos Acusados, de W.S. Van Dyke
200) O Testamento do Dr. Mabuse, de Fritz Lang
199) Rua 42, de Lloyd Bacon
198) Bancando o Águia, de Buster Keaton
197) A Colecionadora, de Eric Rohmer
196) Narciso Negro, de Michael Powell e Emeric Pressburger
195) Fuga do Passado, de Jacques Tourneur
194) Núpcias de Escândalo, de George Cukor
193) Doutor Fantástico, de Stanley Kubrick
192) A Fraternidade é Vermelha, de Krzysztof Kieslowski
191) Carta de uma Desconhecida, de Max Ophüls
190) Alma em Suplício, de Michael Curtiz
189) Vinhas da Ira, de John Ford
188) Fúria Sanguinária, de Raoul Walsh
187) As Oito Vítimas, de Robert Hamer
186) Teorema, de Pier Paolo Pasolini
185) Um Homem com uma Câmera, de Dziga Vertov
184) Ran, de Akira Kurosawa
183) Amarcord, de Federico Fellini
182) Curva do Destino, de Edgar G. Ulmer
181) O Vampiro, de Carl Theodor Dreyer
180) Stalker, de Andrei Tarkovski
179) Agora Seremos Felizes, de Vincente Minnelli
178) Interlúdio, de Alfred Hitchcock
177) Jejum de Amor, de Howard Hawks
176) O Desprezo, de Jean-Luc Godard
175) Marcha Nupcial, de Erich von Stroheim
174) O Império dos Sentidos, de Nagisa Oshima
173) Os Companheiros, de Mario Monicelli
172) A Noite de São Lourenço, de Paolo Taviani e Vittorio Taviani
171) Nana, de Jean Renoir
170) Estrela Ditosa, de Frank Borzage
169) Mistérios de Lisboa, de Raoul Ruiz
168) Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos
167) Os Bons Companheiros, de Martin Scorsese
166) Terra, de Aleksandr Dovzhenko
165) Cidade dos Sonhos, de David Lynch
164) O Gabinete do Dr. Caligari, de Robert Wiene
163) Terra de um Sonho Distante, de Elia Kazan
162) A Última Gargalhada, de F.W. Murnau
161) Orfeu, de Jean Cocteau
160) A Caixa de Pandora, de Georg Wilhelm Pabst
159) Blade Runner – O Caçador de Androides, de Ridley Scott
158) As Coisas Simples da Vida, de Edward Yang
157) O Balão Vermelho, de Albert Lamorisse
156) O Prazer, de Max Ophüls
155) A Viúva Alegre, de Erich von Stroheim
154) E o Vento Levou, de Victor Fleming
153) Noites de Cabiria, de Federico Fellini
152) O Enforcamento, de Nagisa Oshima
151) Uma Mulher Sob Influência, de John Cassavetes
150) Pérfida, de William Wyler
149) Luzes da Cidade, de Charles Chaplin
148) Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho
147) Dias de Ira, de Carl Theodor Dreyer
146) Cada um Vive Como Quer, de Bob Rafelson
145) As Harmonias de Werckmeister, de Béla Tarr
144) Paixão de Fortes, de John Ford
143) O Exército das Sombras, de Jean-Pierre Melville
142) Cinzas no Paraíso, de Terrence Malick
141) A Força do Mal, de Abraham Polonsky
140) A Viagem dos Comediantes, de Theodoros Angelopoulos
139) Soberba, de Orson Welles
138) Noite e Neblina no Japão, de Nagisa Oshima
137) O Amigo Americano, de Wim Wenders
136) Um Dia Quente de Verão, de Edward Yang
135) O Mágico de Oz, de Victor Fleming
134) Napoleão, de Abel Gance
133) Era Uma Vez no Oeste, de Sergio Leone
132) Andrei Rublev, de Andrei Tarkovski
131) Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, de Woody Allen
130) Sorgo Vermelho, de Zhang Yimou
129) Bandidos em Orgosolo, de Vittorio De Seta
128) Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick
127) S. Bernardo, de Leon Hirszman
126) Diabo a Quatro, de Leo McCarey
125) Viver a Vida, de Jean-Luc Godard
124) A Bela Intrigante, de Jacques Rivette
123) Trono Manchado de Sangue, de Akira Kurosawa
122) Noite Vazia, de Walter Hugo Khouri
121) Short Cuts – Cenas da Vida, de Robert Altman
120) Onde Começa o Inferno, de Howard Hawks
119) Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcock
118) A Espada da Maldição, de Kihachi Okamoto
117) Viagem à Itália, de Roberto Rossellini
116) A Roda da Fortuna, de Vincente Minnelli
115) Salário do Medo, de Henri-Georges Clouzot
114) Portal do Inferno, de Teinosuke Kinugasa
113) Rede de Intrigas, de Sidney Lumet
112) Uma Rua Chamada Pecado, de Elia Kazan
111) Lola Montes, de Max Ophüls
110) A Marca da Maldade, de Orson Welles
109) Rastros de Ódio, de John Ford
108) O Intendente Sansho, de Kenji Mizoguchi
107) O Tesouro de Sierra Madre, de John Huston
106) Amores de Apache, de Jacques Becker
105) O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman
104) Através das Oliveiras, de Abbas Kiarostami
103) Laura, de Otto Preminger
102) Ervas Flutuantes, de Yasujiro Ozu
101) Vá e Veja, de Elem Klimov
100) Crash – Estranhos Prazeres, de David Cronenberg
99) Veludo Azul, de David Lynch
98) A Última Sessão de Cinema, de Peter Bogdanovich
97) Psicose, de Alfred Hitchcock
96) Neste Mundo e no Outro, de Michael Powell e Emeric Pressburger
95) Viver, de Akira Kurosawa
94) Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola
93) Mulheres da Noite, de Kenji Mizoguchi
92) O Pior dos Pecados, de John Boulting
91) Shoah, de Claude Lanzmann
90) Gritos e Sussurros, de Ingmar Bergman
89) Inverno de Sangue em Veneza, de Nicolas Roeg
88) Pixote – A Lei do Mais Fraco, de Hector Babenco
87) Eu Sou Cuba, de Mikhail Kalatozov
86) A Mulher de Areia, de Hiroshi Teshigahara
85) Quanto Mais Quente Melhor, de Billy Wilder
84) Terra em Transe, de Glauber Rocha
83) De Punhos Cerrados, de Marco Bellocchio
82) Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade
81) A Carruagem Fantasma, de Victor Sjöström
80) O Bandido Giuliano, de Francesco Rosi
79) Pinóquio, de Ben Sharpsteen e Hamilton Luske
78) Harakiri, de Masaki Kobayashi
77) O Boulevard do Crime – Primeira e Segunda Época, de Marcel Carné
76) A Palavra, de Carl Theodor Dreyer
75) No Silêncio da Noite, de Nicholas Ray
74) Taxi Driver, de Martin Scorsese
73) Contrastes Humanos, de Preston Sturges
72) A Aventura, de Michelangelo Antonioni
71) Meu Ódio Será Sua Herança, de Sam Peckinpah
70) A Conversação, de Francis Ford Coppola
69) Obsessão, de Luchino Visconti
68) Touro Indomável, de Martin Scorsese
67) Os Incompreendidos, de François Truffaut
66) Blow-Up – Depois Daquele Beijo, de Michelangelo Antonioni
65) Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas, de Arthur Penn
64) A Tortura do Medo, de Michael Powell
63) Tabu, de F.W. Murnau
62) O Espírito da Colmeia, de Victor Erice
61) Nashville, de Robert Altman
60) Ladrão de Alcova, de Ernst Lubitsch
59) São Paulo Sociedade Anônima, de Luiz Sérgio Person
58) A Malvada, de Joseph L. Mankiewicz
57) Rio Vermelho, de Howard Hawks
56) Os Sete Samurais, de Akira Kurosawa
55) Pacto de Sangue, de Billy Wilder
54) A Felicidade Não se Compra, de Frank Capra
53) O Samurai, de Jean-Pierre Melville
52) O Poderoso Chefão – Parte 2, de Francis Ford Coppola
51) O Terceiro Homem, de Carol Reed
50) A Grande Testemunha, de Robert Bresson
49) À Beira do Abismo, de Howard Hawks
48) Pai e Filha, de Yasujiro Ozu
47) Tempos Modernos, de Charles Chaplin
46) Desejos Proibidos, de Max Ophüls
45) Cantando na Chuva, de Gene Kelly e Stanley Donen
44) O Homem das Novidades, de Edward Sedgwick e Buster Keaton
43) O Anjo Exterminador, de Luis Buñuel
42) No Tempo das Diligências, de John Ford
41) Aguirre, A Cólera dos Deuses, de Werner Herzog
40) O Decálogo, de Krzysztof Kieslowski
39) Hiroshima, Meu Amor, de Alain Resnais
38) A Canção da Estrada, de Satyajit Ray
37) A Turba, de King Vidor
36) Pickpocket, de Robert Bresson
35) O Conformista, de Bernardo Bertolucci
34) M, o Vampiro de Düsseldorf, de Fritz Lang
33) 2001: Uma Odisseia na Espaço, de Stanley Kubrick
32) O Falcão Maltês, de John Huston
31) O Mensageiro do Diabo, de Charles Laughton
30) Sindicato de Ladrões, de Elia Kazan
29) A Doce Vida, de Federico Fellini
28) O Atalante, de Jean Vigo
27) Metrópolis, de Fritz Lang
26) Lawrence da Arábia, de David Lean
25) Contos da Lua Vaga, de Kenji Mizoguchi
24) Ladrões de Bicicleta, de Vittorio De Sica
23) Chinatown, de Roman Polanski
22) Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha
21) A Grande Ilusão, de Jean Renoir
20) Crepúsculo dos Deuses, de Billy Wilder
19) Ouro e Maldição, de Erich von Stroheim
18) Casablanca, de Michael Curtiz
17) Limite, de Mário Peixoto
16) Encouraçado Potemkin, de Sergei M. Eisenstein
15) A Paixão de Joana D’Arc, de Carl Theodor Dreyer
14) Um Corpo que Cai, de Alfred Hitchcock
13) Rashomon, de Akira Kurosawa
12) Quando Duas Mulheres Pecam, de Ingmar Bergman
11) O Poderoso Chefão, de Francis Ford Coppola
10) A General, de Buster Keaton e Clyde Bruckman
A comédia de Buster Keaton é física. Baseia-se às vezes no risco, no vão de milímetros que se vê – ou não – entre o corpo e as estruturas. Entre tantos filmes marcantes, é com A General que o realizador chega ao máximo: a história de amor entre o homem e a máquina, entre o herói (Keaton, claro) e uma garota indefesa. A ação dá-se sobre os trilhos. O protagonista lança pedaços de madeira em outros pelo caminho, para assim continuar sua viagem e salvar a amada. Ninguém pode pará-lo. E ainda que o espectador saiba de sua iminente vitória, sobram motivos para se emocionar com os feitos técnicos de um cinema que não se faz mais.
9) Quando os Homens são Homens, de Robert Altman
O protagonista (o galã Warren Beatty sob barba avantajada) é um apostador, quer prosperar e tem a ideia de montar um bordel em uma terra de lama e neve. Para tanto, conta com a experiência da senhorita Miller (Julie Christie). Ele tenta se aproximar dela, ela nega-o. A relação de ambos passa do cinismo comum de um país em formação, em que todos querem sobreviver a todo custo, à melancolia que antecede a tragédia incontornável. O faroeste de Altman é obscuro, violento, leva-nos a algumas voltas e sempre nos deixa no mesmo lugar – o que aqui não é um ponto negativo. Em sua aparente clareza há camadas e mais camadas de mistério.
8) Cinzas e Diamantes, de Andrzej Wajda
O terceiro longa-metragem do jovem Wajda. A terceira parte de uma trilogia composta também por Geração e Kanal. O maior filme polonês já feito, cuja imagem mais famosa (abaixo) dá a tônica do momento que aborda (o fim da Segunda Guerra, o mundo das crenças postas de cabeça para baixo, das incertezas e da ausência de fé) e do momento em que foi feito (o questionador cinema moderno nascente). Seu anti-herói, o “James Dean polonês”, assiste à transformação do mundo macro através do mundo micro, tem a missão de matar um homem e se envolve com uma bela mulher em um hotel. Dono de uma carreira maravilhosa, Wajda nunca mais repetiria esse feito.
7) A Regra do Jogo, de Jean Renoir
Comédia realizada à beira da Segunda Guerra Mundial, passada em um castelo isolado, com uma festa para convidados, um aviador apaixonado, seu amigo falador (o próprio Renoir) e outras figuras curiosas que se juntam para desfrutar de tardes de caça, teatro regado a fantasias e adultérios – tudo entre os criados e a alta classe. Roteiro brilhante repleto de voltas, sem protagonistas e com poucas – talvez duas – personagens que se salvam da completa maldade. Um estudo do comportamento humano cheio de malícia e frivolidade. Após o extraordinário A Grande Ilusão, Renoir ainda conseguiu se superar.
6) Contos de Tóquio, de Yasujiro Ozu
O mestre japonês fez diversos filmes considerados “semelhantes”. Em geral, obras que tratam de relações familiares, pais e filhos, tradições quebradas, gente cujos conflitos parecem nunca abalar demais a tela. Adaptado à forma de Ozu, o espectador certamente reconhecerá o autor, filme a filme, e a descoberta de Contos de Tóquio pode levar àquilo que fez de melhor, também ao seu trabalho mais famoso. É sobre a distância entre o casal de senhores e seus filhos da cidade grande. A visita dos mais velhos revela o abismo que separa essas pessoas. Depois, devido a uma morte, são os filhos que deverão visitar os pais.
5) A Batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo
O realismo, as imagens granuladas, o calor do momento e a transpiração de pessoas que viveram a situação são alguns dos ingredientes que ajudaram essa obra-prima do cinema político. Pontecorvo fez alguns filmes de sucesso, mas nada à altura. Consciente da dificuldade de resumir a batalha em marcha da qual trata, nos eventos que levam à independência da Argélia, o cineasta prefere não tomar lado, sem transformar os colonizadores em vilões cruéis ou os oprimidos em heróis acabados e bondosos. O homem sob tortura, nos momentos iniciais, dá a ideia do que vem pela frente.
4) Oito e Meio, de Federico Fellini
Não havia feito nem dez filmes. Ali, à beira do oitavo, com um meio pelo caminho, Fellini decidiu representar sua crise criativa: filmou, com seu toque reconhecível, a própria história. Fez sua obra maior, o caminhar de um certo Guido Anselmi (Marcello Mastroianni), que se refugia em um spa e nos próprios sonhos. Em seguida, é revisitado pelas lembranças, pela família, pela Igreja, pelas mulheres corpulentas que percorrem seu harém. É onde empunha um chicote para então colocar ordem no reino e controlar o motim de suas amantes. Como todo autor, Fellini parecia se repetir. Com tamanha beleza e poder, quem se importa?
3) Cidadão Kane, de Orson Welles
O jornalista persegue a palavra. Nesse caso, uma só. Com ela talvez possa entender o homem em questão, o protagonista de Cidadão Kane, magnata das comunicações. A palavra, claro, é Rosebud. Seu significado será dado apenas no encerramento – ou não. Significa ainda mais, algo que o homem perdeu e não encontrou. Algo que o cinema de Orson Welles – o menino prodígio condenado pela ousadia do primeiro filme, contra um magnata da imprensa americana – encarregou-se de imortalizar. Rosebud, no fundo, é a carne que ultrapassa o mito, o humanismo que sobrepõe as manchetes do jornal, as notícias em marcha.
2) Aurora, de F.W. Murnau
Segundo o crítico Sérgio Alpendre, nenhum estudante de cinema deveria tocar em um câmera antes de assistir a esse filme. O melhor trabalho de Murnau, aqui em Hollywood, com movimentos de câmera perfeitos e, à época, aparentemente leves e ousados. Ao centro, um homem decide matar a mulher para ficar com a amante. Seu arrependimento leva à jornada de reconquista amorosa, ainda na ausência do som, com a cena inesquecível da fusão de imagens enquanto o casal caminha entre os veículos, pela cidade grande. É quando o mundo para, quando o cinema dá uma de suas maiores demonstrações de poder.
1) O Leopardo, de Luchino Visconti
Muitos cineastas, em condições possíveis, tentaram fazer filmes perfeitos. Visconti conseguiu. Baseado na obra de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, com fotografia de Giuseppe Rotunno e música de Nino Rota, Visconti dirige como se pintasse quadros. Os planos mais belos do cinema, a maior parte inesquecível. Lancaster é o homem do passado, o príncipe que se guarda para a caminhada final; Cardinale está bela como nunca; Delon como o cínico necessário, representação dos novos tempos, pronto para abocanhar a bela. Um baile ocupa praticamente um terço do todo. Obra-prima, ainda que seja redundante dizer.
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Cineastas mais presentes na lista
- Seis filmes: John Ford.
- Cinco filmes: Akira Kurosawa, Alfred Hitchcock, Elia Kazan, Federico Fellini, Jean Renoir.
- Quatro filmes: Andrei Tarkovski, Carl Theodor Dreyer, Francis Ford Coppola, F.W. Murnau, Howard Hawks, Ingmar Bergman, Kenji Mizoguchi, Luchino Visconti, Luis Buñuel, Martin Scorsese, Max Ophüls, Michael Powell, Nagisa Oshima, Robert Bresson, Yasujiro Ozu.
- Três filmes: Alain Resnais, Billy Wilder, Buster Keaton, Charles Chaplin, Douglas Sirk, Emeric Pressburger, Erich von Stroheim, Fritz Lang, Ingmar Bergman, Jean-Luc Godard, John Huston, Nicholas Ray, Orson Welles, Raoul Walsh, Robert Altman, Stanley Kubrick, Vincente Minnelli.
- Dois filmes: Abbas Kiarostami, Bernardo Bertolucci, David Lean, David Lynch, Edward Yang, François Truffaut, Frank Borzage, Glauber Rocha, Jean-Pierre Melville, Joaquim Pedro de Andrade, Krzysztof Kieslowski, Leo McCarey, Mario Monicelli, Masaki Kobayashi, Michael Curtiz, Michelangelo Antonioni, Otto Preminger, Rainer Werner Fassbinder, Samuel Fuller, Sergio Leone, Victor Fleming, Vittorio De Sica, Wim Wenders.
Curiosidades
- Em toda a lista, há 42 filmes realizados após os anos 1980 e 17 realizados após os 1990.
- Em toda a lista, há cinco filmes realizados após os anos 2000 e dois após 2010.
- Entre os 100 primeiros da lista, há 25 filmes dos anos 1960, o período com maior volume.
- Entre os 100 primeiros da lista, há seis filmes realizados após os anos 1980 e um após os 1990.
- Não há nenhum filme realizado após os anos 2000 entre os 100 primeiros.
- Entre os 20 primeiros da lista, há cinco filmes dos anos 1920, dois dos 1930, dois dos 1940, cinco dos 1950, quatro dos 1960 e dois dos 1970.
AUTOR: Rafael Amaral, crítico e jornalista
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