Parador é uma republiqueta de banana na América Latina, ambiente perfeito, como se viu em outros filmes, para trocas apressadas de figurinos e presidentes, a reboque da farsa. O diretor Paul Mazursky faz uma mistura de Bananas com Tootsie.
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Ali, o ator de Richard Dreyfuss, Jack Noah, poderá viver o papel de sua vida, o do ditador Alphonse Simms. Mas Dreyfuss já vivia essa mesma personagem: no fundo, a farsa só é possível enquanto o líder político é fabricado por maquiagem, falso bigode, farda branca de detalhes coloridos. Ou seja, enquanto é um ator – ainda que ruim.
Ao assumir sua identidade continua sendo o mesmo: salta para um salão cheio de pessoas, para o corredor de seus criados, para os desfiles em carro aberto, para a sacada no dia de seu discurso, e será reverenciado pelo povo minúsculo. É o canastrão moldado para convencer e agradar os ignorantes, a massa embalada pelo samba.
Noah não tem opção: o verdadeiro líder de Parador, Roberto (Raul Julia), convoca-o ao papel. Platinado e naturalmente falso como tudo nessa comédia, Roberto representa um grupo de empresários com negócios nessa ilha latina sob o risco de uma revolução, da parte ainda consciente – e armada – que ameaça atacar.
A referência clara é Cuba antes da chegada dos irmãos Castro. E se o país não é citado, substituído pelo fictício Parador, o mesmo não se pode dizer dos Estados Unidos, por trás das ações do embuste, e a mantê-lo no trono.
Conhecemos bem essas comédias sobre trocas de identidade. Noah nem sempre seguirá o roteiro que esperam de seu presidente. Às vezes coloca frases a mais, em outros momentos se deixa levar pela dança, pelas bebidas, como também pelo palco do antigo ator que vivia em seu posto e foi vítima de um ataque cardíaco.
O pequeno ditador abobalhado e impotente circula pelas ruas na companhia da bela Madonna (Sonia Braga) e não consegue reparar na caricatura que se tornou, no mau ator que deixou revelar. Não é fácil interpretar um canastrão e não confundir. Mazursky não abre mão dessa fórmula gasta: sua comédia reproduz a visão dos americanos sobre as republiquetas do sul, fundadas entre castelos brancos e favelas.
O fundo sério toma distância. O roteiro beira o ridículo. O filme prefere a comédia de disfarces, truques, com seu presidente desesperado para retirar a farda e a maquiagem. A mistura das locações brasileiras às figuras de fora, como Sammy Davis Jr. cantando à multidão do Carnaval, dá um bom resumo dessa bagunça que pouco leva ao riso e cuja crítica política é rasa.
(Moon Over Parador, Paul Mazursky, 1988)
Nota: ★★☆☆☆
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