O cinema político e a censura, segundo Carlos Saura

Embora pareça um lugar-comum, todo filme no fundo é político, pelo menos em certo sentido. Basta olharmos para uma página de espetáculos para vermos que todos os filmes são políticos: uns por omissão, outros por alusão, outros por evasão… Mas pondo isto de lado, creio ser possível fazer um cinema diretamente político. E mais, gosto do cinema francamente político; o que sucede é haver uma impossibilidade quase total de fazê-lo, e por outro lado talvez até nem haja diretores capazes disso.

 

(…)

 

A censura é um problema. Mas existe, está aí e todos o sabemos. É uma monstruosidade, um contra-senso e além disso a censura é gratuita e inútil. É terrível como destrói coisas que, vistas depois, se mostram inócuas. Até que ponto ela influi no trabalho de um diretor, o obriga a criar uma linguagem, a procurar formas de expressão? É difícil responder a isso. O que é evidente é que a censura obriga a buscar a maneira de contar as coisas fazendo rodeios. Esta necessidade de evitar os fatos sem iludi-los, obriga a procurar formas narrativas e histórias que pouco a pouco moldam a personalidade do autor e seu modo de fazer cinema. Contudo, em certas circunstâncias, essa é a única maneira.

Carlos Saura, cineasta, em entrevista a Cinema Contemporâneo, volume 38 da Biblioteca Salvat de Grandes Temas (Salvat Editora; pgs. 18 e 19). Acima, Geraldine Chaplin em Peppermint Frappé, de Saura.

Veja também:
Vittorio Taviani (1929–2018)

Curta o Palavras de Cinema no Facebook

2 comentários sobre “O cinema político e a censura, segundo Carlos Saura

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s