A lógica dos estúdios mudou: produzir menos filmes, com conteúdo já testado, lançados no maior número de salas ao redor do mundo, simultaneamente. Nessa equação industrial, o custo não é um problema. O risco, sim. Resultado: o cardápio cinematográfico norte-americano está se tornando cada vez mais restrito, e o conteúdo, mais conservador.
Em grande parte, “sequels”, “prequels” ou adaptações de séries de televisão. A safra excepcional de 2007 (Onde os Fracos Não Têm Vez, Sangue Negro, Não Estou Lá e Zodíaco, entre outros) não deve se repetir tão cedo. E dá-lhe Transformers 2, 3, 4…
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Num encontro recente em Berlim, Wim Wenders dizia que, hoje, é provável que um filme como Asas do Desejo (1987) não fosse mais financiado. O filme, assim como Alice nas Cidades (1974), não tinha um roteiro escrito. Tinha, ao contrário, uma ideia que nutria o filme, e que era desenvolvida a cada dia durante a filmagem. Em grande parte improvisado, Asas do Desejo foi viabilizado em um momento em que o processo decisório em torno do cinema independente era outro.
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O teatro foi dado muitas vezes como morto – e não parou de renascer desde então. O mesmo foi dito do cinema quando a TV se tornou dominante. A sentença repete-se agora com a internet. Quando o cinema foi inventado, as primeiras exibições de filmes aconteceram em circos. “O cinema é primo da roda-gigante”, disse uma vez Walter Lima Jr. A roda-gigante também foi dada como morta, e nunca morreu. Talvez porque ela nos ofereça uma visão única, panorâmica, do mundo – e a possibilidade do encantamento.
Walter Salles, cineasta, na Folha de S. Paulo (“O perigoso estado das coisas”; Caderno Ilustrada, 24 de julho de 2009; leia aqui na íntegra). Acima, o ator Otto Sander (à direita) no aclamado Asas do Desejo.
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Bastidores: Asas do Desejo