Homens, Mulheres e Filhos, de Jason Reitman

A internet fornece a ideia de que as pessoas estão mais próximas, ao alcance. A aproximação é o que define os humanos, é o que faz com que a vida tenha sentido, segundo o diretor Jason Reitman em Homens, Mulheres e Filhos.

Por outro lado, a internet não será capaz de satisfazer essas necessidades. Ao longo do filme, as personagens precisam se despregar dela, ou de qualquer coisa que resulte em relações frágeis, e retornar ao mundo real.

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Os filmes de Reitman têm se debruçado em características estranhas adotadas como comuns no mundo moderno: o homem que vive quase sem teto em Amor Sem Escalas, a menina que entrega o filho para a adoção em Juno.

Esse retrato de seres estranhos e ainda assim comuns retorna em Homens, Mulheres e Filhos. Talvez não sejam tão estranhos, talvez não sejam tão semelhantes. O que Reitman deseja é a aproximação a eles, ou entre eles e a câmera.

Trata-se de um curioso mosaico movido às mensagens virtuais: de repente, elas saltam na tela, o que gera uma estranha sensação. No mundo da internet, simplesmente elas pedem passagem, não precisam de qualquer permissão para surgir.

Na tela, o diretor fornece esse resultado, enquanto o espectador vê-se entre as personagens e as mensagens, entre o real e a representação, entre o que assegura o lado humano e o que assegura o virtual, o laço que restou entre todos.

Há esperanças, contudo: aos poucos, as personagens despregam-se desse suposto mal, ou simplesmente aprendem a viver – algumas, nem todas – como antes.

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Reitman não é necessariamente um saudosista, ou um romântico. Todas as personagens rendem-se à internet, são tragadas pelos efeitos da modernidade – até mesmo a mãe controladora interpretada por Jennifer Garner.

Para ela, a internet é uma forma de controle sobre a filha. Durante o filme, o espectador deverá pensar: não seria mais simples retirar a internet do que simplesmente controlar da forma como faz? Ao que parece, em ambos os casos a mãe deixa espaço para que a filha, aprisionada, busque liberdade de outra forma, com uma vida paralela.

Essa menina encontra seu par perfeito: o garoto cuja mãe deixou a família para viver com outro homem. Esse rapaz não superou isso e sofre pelos cantos, calado.

Sua forma de protestar, ou de simplesmente encontrar um freio, um tempo para pensar, é deixar o time de futebol. Volta-se aos jogos de computador, às redes sociais – a tudo o que lhe forneça a segunda vida de segurança, a virtual.

Enquanto sua nova – e talvez primeira – namorada sofre com a presença da mãe em excesso, ele sofre com a ausência. Seu pai, a certa altura, encontra uma namorada, e esta terá problemas com a filha, pois expõe demais a menina, que sonha em ser atriz – justamente o que sua mãe tentou ser e acabou fracassando.

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O filme dá voltas, sempre em meio às personagens que se esbarram, todas da mesma cidade, da mesma vizinhança, da mesma escola, próximas ao time de futebol no qual jogam os meninos, no qual as meninas servem de líderes de torcida, e ao qual se voltam os olhos dos pais e dos outros moradores.

A mensagem do filme está contida no menino cuja mãe foi embora, vivido por Ansel Elgort. Nas conversas com a namorada, ele mostra descrença pela humanidade: diz que, se morrer, o mundo não sentirá sua falta. Sente-se um pingo no nada.

No início, o filme dá a ideia de que os humanos são, na verdade, esse mesmo pingo no nada: eles buscam contato para fora de seu planeta, ou de seu casulo, simplesmente pela dificuldade de acreditar que estejam sozinhos no universo.

Com o uso da tecnologia, lançam máquinas para fora do planeta. Essas criações contêm sons da natureza, o choro de uma criança, músicas variadas: características que definem os humanos, que mostram a necessidade de não estar isolado, de não se sentir perdido, ou apenas para ter certeza de que o significado da vida está no contato com o outro.

Nota: ★★★☆☆

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