A estrutura e as filmagens de Código Desconhecido

Meus outros filmes também contêm várias cenas filmadas em uma única tomada. Em outras palavras, sempre fui nessa direção. Como em todos os meus filmes, Código Desconhecido lida com a questão de saber se é possível reproduzir a realidade em um filme ou se a intenção de apresentar a realidade como verdade não é uma mentira desde o início. Excluir a montagem remove pelo menos parte da manipulação. Em outras palavras, sou forçado a filmar uma cena em tempo real sem ter a oportunidade de encurtar ou alongar o tempo contínuo, como é possível na montagem.

(…)

Há uma cena que ensaiamos com muita precisão. A sequência de abertura de dez minutos no Boulevard, na qual aparecem 200 figurantes e todos os atores, foi ensaiada durante dois dias. Há outra cena com vários extras em um restaurante, que tem mais ou menos a mesma duração, que ensaiamos o dia inteiro, e a filmagem demorou um dia. Fora isso, trabalhamos normalmente.

(…)

(…) algumas características comuns [a meus filmes] são óbvias. Tal como a crítica à forma como a realidade contemporânea é retratada no cinema. Essa é uma parte especialmente importante de O Vídeo de Benny e Violência Gratuita, e também, devido à redução da forma, em O Sétimo Continente, que não é um filme naturalista qualquer. Esse é um tipo de filme que vive sempre entre aspas, por assim dizer. E porque esse é realmente o problema em que estou pensando, é uma condição sine qua non para todo cineasta na era da manipulação da mídia. Não consigo levar ninguém muito a sério se o trabalho deles não refletir isso. Você não pode agir como se ainda estivesse no século 19 e como se a realidade pudesse ser reproduzida em sua totalidade. Isso é um absurdo. Mas é isso que aproximadamente 90% de todos os diretores fazem. As pessoas querem ser tranquilizadas, não forçadas a pensar.

Michael Haneke, cineasta, em entrevista ao site Austrian Films (em 2000, presente no site em inglês; a tradução é deste site). Acima e abaixo, imagens da sequência de dez minutos, a primeira após os créditos da obra.