Eisenstein, o diretor de filmes russo, veio a Hollywood com sua equipe, da qual faziam parte Grigor Alexandrov e também um jovem inglês chamado Ivor Montagu, amigo do cineasta. Via-os com frequência. Vinham jogar tênis em minha quadra; aliás, jogavam muito mal; pelo menos Alexandrov.

Eisenstein deveria fazer uma película para a Paramount. Viera ele com a fama de O Encouraçado Potemkin e Dez Dias que Abalaram o Mundo [Outubro]; assim, julgou aquela empresa ser bom negócio contratá-lo para dirigir a filmagem de argumento que ele próprio escrevesse. Eisenstein compôs um ótimo, Sutter’s Gold, extraído de interessante documentário sobre os primeiros tempos da Califórnia. Era coisa sem o menor traço de propaganda; mas, como Eisenstein viera da Rússia, a Paramount acabou ficando com medo e o projeto deu em nada.

Um dia, em discussão que tivemos sobre o comunismo, perguntei a Eisenstein se um proletário instruído era mentalmente igual a um aristocrata com várias gerações de cultura. Creio que ficou surpreso com a minha ignorância. O cineasta, que descendia de engenheiros, família de classe média, respondeu: “Quando educadas, as massas têm a fecundidade intelectual de um solo virgem e rico de húmus”.

O seu Ivan, o Terrível, que vi depois da Segunda Guerra, é uma obra sem-par entre os filmes de sentido histórico. Eisenstein interpretou o passado poeticamente – o que é um meio esplêndido de interpretá-lo. Ao dar-me conta de como são deformados acontecimentos ainda recentes, descreio do que narram os historiadores. Prefiro evocações poéticas que reconstituam a atmosfera de uma ou de outra época. Pensando bem, encontramos nas obras de arte maior número de fatos e pormenores convincentes do que nos livros de história.

Charles Chaplin, cineasta, em Minha Vida (José Olympio Editora, 8ª Edição; pg. 325). Na imagem do cabeçalho, os diretores Sergei Eisenstein e Chaplin em uma partida de tênis na quadra do segundo.

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