Primeiramente, desperta em mim o desejo de respeitar a História, mas também de produzi-la, porque, se queremos dirigir um filme que tenha credibilidade, é preciso partir, antes de tudo, de uma exigência absoluta de respeito pela verdade dos fatos. A fantasia deve tomar algo emprestado da interpretação da realidade, mas não há necessidade de recorrer a artifícios ou alterar os eventos, os fatos reais, para criar maior credibilidade cinematográfica. A verdade contém tamanha fantasia que não é necessário acrescentar mais, ou manipulá-la. Basta interpretar a História de modo correto. Meu método é o de sempre: colocar o homem no centro. O cinema, os filmes, são acontecimentos humanos, e é por isso que minhas obras ainda sobrevivem. Não faço investigações de tipo judicial ou policial, e se intervenho nos fatos com método investigativo é para indagar sobre o homem.
(…)
Fui muito amigo de Glauber Rocha. Nossa estima era grande e recíproca, e é realmente uma pena Glauber ter-se ido tão antes da hora. À parte a amizade por Glauber Rocha, na época do cinema novo, fiquei muito impressionado com um filme de Nelson Pereira dos Santos: Vidas Secas [1965]. Um filme maravilhoso. Tocou-me seu modo realista de fazer cinema, de comunicar certos valores da terra assim como os ideais sociais. No filme de Nelson há tudo: esperanças, aspirações, dores. E sem retóricas, ou inúteis discursos complementares. Os diretores, em minha opinião, devem falar por meio do que fazem, por meio de seus filmes. Os outros é que têm de falar dos filmes a que assistem e dos quais, talvez, tenham algo a dizer ou criticar. Os diretores podem concordar ou discordar das críticas, mas devem calar-se. Quem fala por mim são meus filmes, e ninguém mais.
Francesco Rosi, cineasta, em entrevista contida no livro Cinema Político Italiano – Anos 60 e 70, de Angela Prudenzi e Elisa Resegotti (Editora Cosac Naify; pgs. 70 e 72). Acima, Rosi; abaixo, o diretor com o Leão de Ouro em Veneza conquistado por As Mãos Sobre a Cidade.
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