Bastidores: Taxi Driver

Grande parte de Taxi Driver surgiu da minha convicção de que os filmes são realmente uma espécie de estado-de-sonho, ou como tomar droga. E o choque de sair do cinema para a plena luz do dia pode ser aterrador. Vejo filmes a toda a hora e é-me sempre muito difícil acordar. Cada filme era isso para mim – esse sentido de estar quase acordado. Há uma cena em Taxi Driver em que Travis Bickle está a falar ao telefone com Betsy e a câmera se afasta dele ao longo de todo esse hall de entrada onde não há ninguém. Foi esta a primeira cena que eu imaginei para este filme e foi precisamente a última que filmei. Gosto dela porque sinto que foi um complemento para a solidão ali retratada, mas parece-me que se consegue sentir que alguém está atrás da câmera nessa cena.

O filme é todo muito baseado nas sensações que tenho como resultado de ter crescido em Nova York e viver na cidade. Há um plano em que a câmera está montada no tejadilho de um táxi e passa por baixo de um anúncio de Fascination que fica mesmo debaixo do meu escritório. É essa ideia de estar fascinado, desse anjo vingador flutuando através das ruas da cidade, que representa todas as cidades para mim.

(…)

Tal como nos meus outros filmes, em Taxi Driver também houve alguma improvisação. A cena entre De Niro e Cybill Shepherd, no café, é um bom exemplo. Eu não queria o diálogo tal como aparecia no roteiro, por isso improvisamos durante cerca de 12 minutos. Depois o escrevemos e o filmamos. No fim, ficou em três minutos. Muitas das melhores cena, como aquela em que De Niro diz “suck on this” e invectiva Keitel, estavam designadas para serem filmadas em um só take. Embora cada cena do filme tenha sido antecipadamente desenhada, com as dificuldades que encontramos, incluindo perder quatro dias de filmagens por causa da chuva, muito do material teve de ser filmado como documentário.

Procuramos em O Homem Errado, de Hitchcock, os movimentos de câmera quando Henry Fonda vai ao escritório da seguradora, e se notam as mudanças de ponto de vista das pessoas atrás do balcão. Era esse tipo de paranoia que eu queria empregar. E o modo como Francesco Rosi usou preto e branco em O Bandido Giuliano, era o modo que eu queria fazer que Taxi Driver parecesse, mas em cores.

Martin Scorsese, cineasta, em Scorsese por Scorsese, com organização de David Thompson e Ian Christie (Edições 70, Lisboa; pgs 80 e 86). Acima e abaixo, De Niro e Scorsese durante as filmagens; na última foto abaixo, o roteirista Paul Schrader, Scorsese e De Niro.

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