O assunto sempre gera debates calorosos. Os filmes abaixo – sobretudo a nós, brasileiros, que ainda não conseguimos fazer a discussão sobre o aborto de forma adequada, ou civilizada – ajudam a pensar no lugar da mulher na sociedade, em seu direito de escolha, no patriarcado, na ignorância. Não são filmes com respostas fáceis. Por isso mesmo são necessários.
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Um Assunto de Mulheres, de Claude Chabrol
A França ocupada pelos alemães, durante a Segunda Guerra, exalava poder masculino. Nesse meio, uma dona de casa desiludida passa a realizar abortos para ganhar um pouco mais de dinheiro. O grande Chabrol não faz de sua personagem alguém amável, tampouco alguém sem alma.

O Segredo de Vera Drake, de Mike Leigh
É também sobre uma mulher simples que realiza abortos. O cenário agora é a Inglaterra do pós-guerra. No papel-título, Imelda Staunton está brilhante. Sua Vera Drake é repleta de humanidade, cidadã acima de qualquer suspeita que secretamente ajuda outras mulheres e paga um preço alto.

4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, de Cristian Mungiu
Provavelmente o melhor filme já feito sobre o assunto. Na Romênia asfixiada de Nicolae Ceausescu, uma garota tem a ajuda de sua amiga, durante um dia, em sua jornada pelo aborto. O filme nasce do olhar da outra, que observa, minuto a minuto, o esmagamento da mulher.

O Lobo Atrás da Porta, de Fernando Coimbra
Na maior parte do filme não encontramos uma história sobre aborto. Inicia como uma história de desaparecimento, evolui à história de vingança. Aos poucos as peças encaixam-se. É de uma crueldade sem igual – de todas as personagens, para todas as personagens em cena.

Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre, de Eliza Hittman
A garota que deseja praticar o aborto viaja da Pensilvânia – seu Estado, onde o procedimento não é permitido – para Nova York. O corajoso filme de Hittman expõe as fragilidades dessa menina e de sua amiga, a união entre ambas, o choro de quem vive uma pressão insuportável.

Lingui, The Sacred Bonds, de Mahamat-Saleh Haroun
Mãe solteira, muçulmana praticante, a protagonista descobre que sua filha de 15 anos está grávida. A menina, para não ter o mesmo destino da mãe, quer abortar. Ao lado, a sociedade masculina mostra suas garras: a religião encabeçada por homens, os velhos rituais, o estupro.

O Acontecimento, de Audrey Diwan
Na França dos anos 1960, quando o aborto ainda era proibido no país, uma estudante tenta de todas as formas a ajuda para realizar o procedimento. Nesse processo, ela descobre que todos, ou quase, estão contra ela. Se seguir com a gravidez, não poderá seguir com seus estudos.

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SOBRE O AUTOR:
Rafael Amaral é crítico de cinema e jornalista (conheça seu trabalho)

Veja também:
4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, de Cristian Mungiu
Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre, de Eliza Hittman
Ótima lista, além desses também recomendo o maravilhoso “Uma Canta, a Outra Não” da Agnès Varda, o aborto não é tema central do filme, mas a forma como é abordado é ótima.
Que bom que gostou! Abraços!