Foi uma grande experiência trabalhar com Sidney Lumet na direção, Ralph Richardson no papel masculino principal e Jason Robards e Dean Stockwell como meus dois filhos. É uma peça brilhantemente escrita, a personalidade da mãe descrita com tanta sensibilidade que dá vontade de fazê-la. Ensaiamos durante três semanas num salão da Segunda Avenida e decoramos as falas para que, quando fôssemos filmar num casarão velho de City Island, pudéssemos rodar cenas longas. Impossível ser melhor que o papel. O’Neill conhecia as pessoas, e sua análise daquele casal é realmente instigante. Bastava pensar, concentrar-se e interpretar as falas. Eu me sentia inteiramente apoiada pelas palavras. Uma experiência e tanto! Nunca vou esquecer.
Quando terminamos o filme, fizemos uma festinha muito modesta: comida e alguns músicos. Richardson de repente chegou perto; eu estava sentada conversando com a mulher dele, Mu Forbes. Convidou-me para dançar.
– Ah, Ralph – eu disse-, não danço há anos.
– Ora, vamos – disse a mulher dele -, dance com ele.
E lá fomos Ralph e eu, rodopiando juntos pelo salão. Quando a música parou, Ralph parou, afastou-se um tiquinho de mim, continuou com as mãos no meu ombro e, com uma voz macia de quem foi pego totalmente de surpresa, disse:
– Sabe o que mais, você é uma mulher muito atraente!
Katharine Hepburn, atriz, em sua autobiografia Eu – Histórias da Minha Vida (Editora Siciliano; pg. 232; tradução de Beth Vieira). Acima, Hepburn em cena; abaixo, a atriz nos bastidores de Longa Jornada Noite Adentro, de 1962.
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Não vi.Que pena!Linda e talentosa!