Os anos 1960 são mágicos. Em 1962 há grandes filmes em volume inacreditável, o que torna difícil demais a realização da lista abaixo. Aqui, Truffaut encontra Hawks, Antonioni aproxima-se de Ozu, Polanski convive com Ford e Preminger. O clássico e o moderno, a imersão no deserto com David Lean e a clausura de Luis Buñuel.

20) Jules e Jim – Uma Mulher para Dois, de François Truffaut
Jeanne Moreau, Oskar Werner e Henri Serre vivem um amor a três que, até certa altura, no equilíbrio possível entre essas três vidas, acreditamos que pode durar para sempre. Somos otimistas, afinal.

19) A Faca na Água, de Roman Polanski
Um casal resolve dar carona para um desconhecido. Os três seguem em uma viagem de barco. As relações de cordialidade logo desmoronam: o viajante deseja a mulher do outro. Primeiro longa de Polanski.

18) Os Cafajestes, de Ruy Guerra
Norma Bengell expõe o corpo enquanto é cercada pelo olhar masculino. A cena história mescla sensualidade e dor – é difícil de explicar. Guerra capta com exatidão as transformações do Brasil da época.

17) O Eclipse, de Michelangelo Antonioni
A terceira parte da chamada Trilogia da Incomunicabilidade une Monica Vitti e Alain Delon. Após romper com o namorado, a protagonista conhece um jovem corretor da Bolsa de Valores, com quem vive nova jornada.

16) Sob o Domínio do Mal, de John Frankenheimer
Poderoso thriller de Frankenheimer com Frank Sinatra no papel central e Angela Lansbury como extraordinária vilã. Envolve lavagem cerebral, paranoia e a tentativa de matar um político influente.

15) Hatari!, de Howard Hawks
Há filmes que grandes autores parecem ter feito apenas como diversão. Ainda assim são grandes filmes – e devem ser levados a sério. Hatari! é um deles, uma aventura na África com John Wayne, à moda antiga.

14) Aquele Que Sabe Viver, de Dino Risi
O homem de Vittorio Gassman nega-se a envelhecer. Ao acaso, ele encontra o jovem certinho de Jean-Louis Trintignant. Ambos embarcam em uma viagem de transformação à sombra de uma nova Itália.

13) Dois Destinos, de Valerio Zurlini
A relação entre irmãos. Separados ainda crianças, eles reencontram-se adultos. A longa separação fez com que poucas semelhanças fossem preservadas. Um dos filmes mais tristes do mestre Zurlini.

12) O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte
Grande filme brasileiro sobre a fé inabalável de Zé do Burro (Leonardo Villar), que tenta entrar em uma igreja em Salvador, Bahia, para cumprir sua promessa. O que parece simples converte-se em enorme dificuldade.

11) A Rotina Tem Seu Encanto, de Yasujiro Ozu
Ozu é o cineasta do cotidiano, dos planos fixos, das relações familiares. Este é seu último filme, a história de um homem velho que tenta encontrar um companheiro para a filha que reluta em deixá-lo.

10) O Homem que Matou o Facínora, de John Ford
Se a lenda sobrepõe-se ao fato, é ela que será publicada. Essa é a base do faroeste e de seus mitos. Mas Ford parece jogar aqui com algo real e, de certa forma, descortina o império de lendas que ajudou a levantar.

9) Tempestade Sobre Washington, de Otto Preminger
As intrincadas relações políticas em Washington, outra prova de que Preminger sempre esteve atento às questões graves de seu tempo; um cinema que aborda o medo do comunismo e até a homossexualidade.

8) Lolita, de Stanley Kubrick
Kubrick foi ousado, à época, ao aceitar encarar a adaptação do livro de Vladimir Nabokov. James Mason está incrível como o professor que se deixa levar e até se destruir pelos encantos de uma ninfeta.

7) A Cidade dos Desiludidos, de Vincente Minnelli
Dez anos após Assim Estava Escrito, Minnelli volta ao mundo do cinema com Kirk Douglas (o protagonista do filme anterior), dessa vez em Roma. O elenco ainda tem Edward G. Robinson e Cyd Charisse.

6) O Processo, de Orson Welles
Provavelmente a melhor adaptação de Kafka para o cinema. Welles soube captar os ambientes labirínticos e o peso das instituições sobre o indivíduo, cada vez mais vigiado e perseguido. Obra de mestre.

5) Viver a Vida, de Jean-Luc Godard
Anna Karina é Nana, a garota transformada em prostituta, em pequenas aventuras por Paris em 12 capítulos. É o melhor filme da parceria Godard/Karina e possivelmente o melhor da extensa carreira do diretor.

4) O Bandido Giuliano, de Francesco Rosi
O corpo do bandido é dado na abertura. Sem vê-lo a maior parte do filme, somos levados a conhecer sua história, seu levante, suas contradições, em equilíbrio perfeito nessa obra maior do cinema político italiano.

3) Harakiri, de Masaki Kobayashi
No século 17, alguns samurais maltrapilhos passam a aderir ao harakiri, ou seja, ao suicídio com honra. Estamos aqui nesse contexto, com um samurai que apela ao harakiri, mas antes tem uma história para contar.

2) O Anjo Exterminador, de Luis Buñuel
Um bando de burgueses veem-se presos a uma grande casa. Por algum motivo inexplicável, eles não conseguem mais sair dali. O tempo passa, eles definham. O homem-animal mostra suas verdadeiras entranhas.

1) Lawrence da Arábia, de David Lean
O herói é um pouco efeminado e não há aqui uma história de amor. Passa-se todo no deserto e dura quatro horas. Todas as possibilidades de não dar certo são contornadas. É um dos mais belos filmes de todos os tempos.

SOBRE O AUTOR:
Rafael Amaral é crítico de cinema e jornalista (conheça seu trabalho)
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