Na ocasião do lançamento do livro Afinal, Quem Faz os Filmes, em 2000, o crítico de cinema Sérgio Rizzo entrevistou o autor da obra – um obrigatório calhamaço de 978 páginas com 16 entrevistas com grandes diretores – e também cineasta Peter Bogdanovich. Reproduzimos abaixo a entrevista a Rizzo, publicada na extinta revista SET.
Em seu livro, você diz que A Viúva Alegre (1934), de Ernst Lubitsch, é um dos dez melhores filmes de todos os tempos. Quais são os outros nove?
Não sei (risos). Não gosto desse tipo de coisa, comparar maçãs com laranjas. Há obviamente cineastas que estão acima da média, como Lubitsch. Em um determinado nível, elevado, não importa dizer o que é melhor. Lubitsch é certamente um dos melhores, e o meu favorito. Se você quer entrar nesse jogo, Jean Renoir foi o maior diretor do Ocidente, e Kenji Mizoguchi, com base em meu conhecimento limitado, o maior do Oriente.
Você faz elogios no livro a Wes Anderson (Três é Demais) e Edward Burns (Os Irmãos McMullen, Nosso Tipo de Mulher), que chama de “new kids on the bloch”. O que acha da nova geração de cineastas americanos?
Anderson é um dos melhores, muito original, fácil de distinguir visualmente, e tem uma personalidade incomum. Vi os dois primeiros filmes de Burns e são maravilhosos, melhores nos diálogos e nas interpretações do que nas imagens, mas muito bons.
Joel e Ethan Coen?
Eles são muito talentosos. Gosto muito dos seus filmes, são bem interessantes.
David Fincher?
Nunca vi nenhum filme dele. Não vi Clube da Luta.
Paul Thomas Anderson?
Só vi Boogie Nights. Não vi Magnólia. Acho que é talentoso.
A tecnologia digital determinará o futuro do cinema?
Jean Cocteau disse que o cinema não se tornaria arte até o momento em que o material necessário para fazer filmes fosse tão fácil de obter e manusear quanto o lápis e o papel. Não concordo com ele, mas entendo o significado. A única esperança do cinema é que filmes pequenos, pessoais, independentes, provoquem impacto nas bilheterias e alterem a percepção da indústria. Filmes como Meninos Não Choram, que são muito fortes e corajosos, descompromissados, complicados, perigosos. É assim que as coisas podem mudar. Tudo o que torne o material mais acessível e fácil de usar só pode ajudar. Teremos mais cineastas amadores, sim, e aí deverá ocorrer uma coisa interessante. O pintor Auguste Renoir, pai de Jean, lamentou a invenção da fotografia porque acreditava que ela acabaria com a pintura amadora, o que de fato ocorreu. Segundo Renoir, sem passar pelas dificuldades da criação, as pessoas esqueceriam o quão difícil é pintar. Talvez o vídeo e a explosão digital tornem possível fazer filmes por mil dólares, tipo “Alugue o material por um fim de semana e faça um filme”. Então, os amadores verão como o cinema é difícil.
Você viu A Bruxa de Blair?
Sim.
E o que achou?
Muito interessante para ouvir no rádio (risos).
Um jornalista americano disse que você é uma figura original na indústria do cinema: um artista com alma de acadêmico, e vice-versa. O que acha dessa classificação?
Limitada (risos).
O que prefere? Ver filmes, fazê-los ou escrever sobre eles?
Não há discussão: prefiro fazê-los. Número um, bem à frente das outras coisas. Gosto de filmar; é a minha parte favorita. Todo o resto é preparação.
Revista SET (Editora Peixes; junho de 2000; pgs. 52 e 53). Acima, Bogdanovich; abaixo, com o cineasta Orson Welles.
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Veja também:
Peter Bogdanovich (1939–2022)