Esta personagem [Michèle, interpretada por Isabelle Huppert] tem suas próprias regras. Ela depende de si mesma e de mais ninguém, na verdade. Tenho certeza de que tem muito a ver com seu passado e tudo mais, mas, claro, é extremamente corajosa e vive sua própria vida. Mesmo que seja estuprada, ela recusa a compaixão, não é? Quando diz às pessoas à mesa no restaurante: “Eu acredito que fui estuprada”, elas mostram compaixão e dizem: “Oh meu Deus” e isto e aquilo, “Que horrível”. Mas ela corta fora, certo? Ela não quer ouvir, mesmo. Ela diz: “Vamos pedir [o jantar]”. Ela não quer ser vista – e não se vê – como uma vítima.
Ela vê isso como algo que lhe aconteceu e precisa ser superado. Não no dia seguinte ou na próxima hora – está claro logo no início do filme. Ela se limpa, toma banho e pede um sushi. Essa é sua personagem. Por causa da violência, há um hematoma em seu rosto, mas ela diz ao filho: “Eu caí da minha bicicleta”. Então ela se recusa a se sentir como uma vítima. Ela recusa isso. É um personagem interessante, eu acho – alguém que pode não existir na realidade, sabe? [Risos]
Mas, no filme, é convincente. Você acredita nela. Que ela é assim. Mas não existem muitas pessoas que podem alcançar isso na vida. Alguém que pode passar por cima de coisas horríveis, e chegar no dia seguinte com os olhos abertos e basicamente fazer o seu trabalho e não ficar chateado com o que aconteceu.
Paul Verhoeven, cineasta, em entrevista para o site Den of Geek (março de 2017; leia aqui em inglês; a tradução é nossa). Acima e abaixo, Verhoeven e Huppert nos bastidores de Elle.
ACOMPANHE NOSSOS CANAIS: Facebook e Telegram

Veja também:
Bastidores: Perdidos na Noite