O Resgate do Bandoleiro, por Antonio Moniz Vianna

Arizona. No início, um cavaleiro solitário surge aos olhos de um menino, como Shane. Mas não é nada disso. O pequeno Chris Olsen, que vive com o pai no posto de diligência, é seu amigo e lhe encomenda um pacote de balas – a primeira coisa que Randolph Scott compra ao apear em Contention. O herói quer comprar também um touro, só conseguindo, todavia, sair do rancho de Robert Burton a pé e todo molhado: caiu na asneira de apostar seu cavalo contra o touro e acabou dentro do bebedouro. Ainda está na metade do caminho e já exausto, quando vem a diligência. O cocheiro é amigo (Arthur Hunnicutt) e ele vai para a boleia, apesar da oposição de John Hubbard, que segue para a lua de mel com a filha (Maureen O’Sullivan) do dono da maior mina de cobre da região. A diligência para no posto de reabastecimento – que está em estranho silêncio.

Um dia de azar para o herói – este o ponto de partida de The Tall T. Momentos piores, que ele já não pode enfrentar sorrindo, logo virão. O drama começa aí, na parada: primeiro uma voz ordena a deposição das armas no chão; a seguir, surgem dois homens (Richard Boone e Skip Homeier), e lá de dentro um terceiro abate o cocheiro. O fim de todos seria o mesmo de Hunnicutt – e do menino e seu pai, que está dentro do poço – se Boone não simpatizasse com a serenidade de Scott e se Hubbard não revelasse a riqueza do sogro, que, para ver salva a filha, pagaria qualquer resgate. Com isso, Hubbard, que deu o golpe do baú, está pensando somente em salvar a própria pele. A covardia, entretanto, o perderá. Pouco adiante, ja num acampamento das montanhas, Boone deixará que se divirtam, atirando nele, seus dois pistoleiros – dois animais: um analfabeto que não sabe quem foram seus pais, nem quantos anos tem, e desde menino vive do assassinato e do roubo (Skip Homeier); outro um degenerado, oue matou o próprio pai e só sente prazer matando ou recordando as meretrizes de Sonora.

A narrativa, uma vez fixada nas montanhas, é compacta e tensa, sem artifícios, e o exame psicológico dos personagens não diminui a ação, porque não vai à complexidade gratuita de westerns evidentemente mais pretensiosos e também menos autênticos. The Tall T não decepciona, assim, aos que, tendo visto Seven Men from Now (Sete Homens Sem Destino), nutriam esperanças nesta nova aventura de Randolph Scott com o mesmo cenarista (Burt Kennedy) e, na direção, o mesmo Budd Boetticher.

O diretor, entre muitas fitas medíocres, resultantes possivelmente de nunca ter conseguido sair da produção B, exibe em sua filmografia um interessante The Bullfighter and the Lady (Paixão de Toureiro), cujas melhores cenas, segundo o produtor (John Wayne), tiveram o dedo de John Ford. A experiência não se perdeu: também porque opera de preferência no western, Boetticher parece estar seguindo as lições do mestre. Não tem a altura de outros, como Anthony Mann e John Sturges, mas, como John Farrow (que Ford também ajudou em Hondo), hoje é capaz de obter bom resultado quando amparado por um script competente. Os que o vinham julgando por coisas como East of Sumatra, já devem ter notado que Boetticher acertou modestamente, em três filmes consecutivos: os dois com Randolph Scott e um thriller independente, The Killer is Loose (O Assassino Anda Solto).

The Tall T perde, em trama, para Seven Men from Now. Está armado, porém, com o mesmo rigor, dentro do mesmo estilo, levando para o ar livre, como exige o western tradicional, um suspense semelhante ao que o thriller desenvolve, normalmente, entre quatro paredes. O interesse de The Tall T está na parcial identificação do bandido com o herói; Boone, que veio lá do Wyoming, despreza os dois cúmplices e inveja Scott, dono do pequeno rancho que, um dia, ele espera voltar a ter também. Antes já admirava as qualidades do prisioneiro – a coragem, o caráter firme, a sinceridade de confessar que tem medo de morrer. Por isso, e porque precisa de alguém com quem possa conversar, não permite que Homeier & Silva eliminem logo o prisioneiro – e talvez até o mande embora, vivo, depois de cobrado o resgate. Por conhecer Scott, ainda, Boone lhe dará as costas, no clímax da aventura, e teria escapado se a ambição não o fizesse voltar atrás, traiçoeiramente. O mal, em Boone, acaba prevalecendo, não obstante a atração que ele sente pelo bem.

Outro aspecto curioso, porque infrequente, é a heroína feia. Os bandidos lamentam o fato, e se Homeier vai encontrar a morte perto da blusa desabotoada de Maureen O’Sullivan, isso se deve a uma dupla excitação: a conversa erótica que Henry Silva tivera, pouco antes, com ele e a ardilosa revelação, feita por Scott, de que Boone e Silva já haviam “visitado” a moça. A própria Maureen tem consciência de que não é bonita: após a morte de Hubbard, diz a Scott a desconfiança de que aquele só se casara com ela de olho na sua herança. Repete-se, assim, uma das situações de Marty, com a vantagem do western sobre a coisa de TV e de Maureen O’Sullivan sobre Betsy Blair – porque se a primeira já não é bonita (mas é boa atriz), a outra inibe qualquer um, homem ou filme.

Correio da Manhã (1º de maio de 1958)

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