Quanto à direção de atores propriamente dita, eu diria que meu princípio é tentar aplicar as regras do cinema-verdade ao universo da ficção. Por exemplo, na cena de O Último Tango em que Marlon Brando está sentado na cama e conta para Maria Schneider sobre seu passado, foi realmente ele quem inventou tudo. Eu disse a ele: “Ela vai lhe fazer perguntas, responda o que quiser”. Ele começou a contar todas aquelas histórias perturbadoras, e eu, como diretor, ficava como espectador, isto é, eu não sabia se ele estava mentindo ou contando a verdade. Mas é para isso que serve a improvisação: para tentar tocar na verdade, mostrar algo de muito verdadeiro que teria ficado oculto por trás da máscara do personagem. Foi, aliás, uma das primeiras coisas que eu disse a Brando. Disse-lhe que eu queria que ele tirasse sua máscara de “actor’s studio”, que eu queria descobrir o que havia por trás dela.

Bernardo Bertolucci, cineasta, em depoimento a Laurent Tirard em Grandes Diretores de Cinema (Editora Nova Fronteira; pgs. 156 e 157).

Ele [Bertolucci] quis que eu representasse a mim mesmo e improvisasse completamente para encarnar Paul como se ele fosse um espelho autobiográfico da minha pessoa. Como Bernardo não falava inglês muito bem e não conhecia nada de gíria americana, fazia-me escrever praticamente todas as minhas cenas e os meus diálogos e nós nos comunicávamos em francês, através de mímica.

(…)

O Último Tango em Paris exigiu que eu travasse comigo mesmo uma acirrada luta emocional, e quando ficou pronto eu decidi que nunca mais me destruiria emocionalmente para fazer um filme. Senti-me violentado na parte mais íntima do meu ser e não queria nunca mais sofrer assim.

Marlon Brando, ator, em Brando: Canções que Minha Mãe me Ensinou (co-escrito por Robert Lindsey; Editora Siciliano; pgs. 337 e 338). Acima, o diretor e o astro; abaixo, Brando nas filmagens.

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