Vivien Leigh tem uma daquelas raras interpretações que podem verdadeiramente evocar pena e terror. Como Blanche DuBois, ela parece uma figura de porcelana arrasada e atua como tal. Ninguém, desde a precoce Lilian Gish e a quase desconhecida Nadia Sibirskaya, de Menilmontant (1926), tivera essa fragilidade feminina desamparada de promessa; Shakespeare talvez tivesse em mente uma mulher assim ao conceber Ofélia. O argumento de Blanche: “Eu não quero realismo… quero magia!” é fundamental para Uma Rua Chamada Pecado. Quando Marlon Brando, como o realista Stanley Kowalski, corta essas pretensões e responde aos flertes dela com um ataque sexual direto, o sistema de ilusões que a mantém inteira se desintegra, e ele se revela um homem sem compaixão – ao mesmo tempo infantil e bruto. A direção de Elia Kazan é muitas vezes teatral, e os cenários e os arranjos dos atores são frequentemente “preparados” com demasiada transparência, mas quem se importa quando se está assistindo duas das maiores interpretações já vistas no cinema e ouvindo um dos melhores diálogos já escritos por um americano? Quando Vivien Leigh diz: “As patas de tarântula” ou “É um azul Della Robbia”, sabe-se a que ponto Tennessee Williams pode ser bom.
Pauline Kael, crítica de cinema, em 1001 Noites no Cinema (Companhia das Letras; pg. 430). Acima, Brando e Leigh; abaixo, o diretor Elia Kazan e mais imagens dos atores nos bastidores.
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