Em relação ao público, o filme era uma espécie de desafio. Pois, mesmo que tudo nele seja simples, o seu postulado é muito excêntrico e eu precisava torná-lo plausível sem fazê-lo perder a fantasia. Na verdade, tratava-se de um problema de dosagem entre o cotidiano e o extraordinário e, sem cessar, era necessário passar de um ao outro e misturá-los.
(…)
O roteiro havia sido escrito para ser pungente, para fazer medo. Mas durante as filmagens eu não consegui levá-lo inteiramente a sério. Diverti-me. A cena em que a velha senhora morre queimada em meio a seus livros poderia ter sido muito forte se eu tivesse tomado como atriz uma mulher descarnada, guardiã patética da cultura. Ao contrário disso, coloquei uma gordinha engraçada. O patético não está na partida, mas na chegada.
François Truffaut, cineasta, em entrevista para L’Express (nº 883, 20-26 de maio de 1968), reproduzida em O Cinema Segundo François Truffaut (Editora Nova Fronteira; pgs. 171 e 172). Acima, a estrela do filme, Julie Christie; abaixo, Truffaut e sua atriz durante as filmagens, em Londres.
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