Como Kiarostami teve a ideia de realizar Close-up

Depois de Lição de Casa, estava a ponto de fazer outro filme sobre crianças, intitulado Dinheiro no Bolso. Alguns dias antes de iniciar as filmagens – estava tudo pronto – li em um jornal, na seção de cotidiano, uma matéria que falava de um indivíduo que pretendia fazer-se passar pelo diretor de cinema [Mohsen] Makhmalbaf. Havia também uma entrevista com o acusado, que declarava: “Daqui por diante sou um pedaço de carne de um animal sem cabeça e podem fazer comigo o que quiserem”. Fiquei muito impressionado com a notícia, e, sobretudo, com essa declaração; fui dormir, e no dia seguinte, acordei ainda pensando na frase. Passados dois dias, percebi que a recordação da entrevista me perseguia, não saía da minha cabeça. A frase ecoava: “Daqui por diante sou um pedaço de carne de um animal sem cabeça e podem fazer comigo o que quiserem”. Parecia que estava falando comigo, que eu era o público ao qual se dirigia, e que tinha de fazer algo por ele. Chamei o produtor Ali Reza Zarrin, pedindo-lhe para mudar o projeto e para financiar este outro filme. Ele aceitou imediatamente. No dia seguinte, em vez de levarmos a câmera para uma escola, nós a levamos para uma prisão. Foi dessa inquietação que nasceu Close-Up.

Abbas Kiarostami, cineasta, a partir de conversas com Alberto Barbera e Elisa Resegotti, transcritas no livro Abbas Kiarostami (Cosac Naify; pg. 228). Em Close-Up, um homem humilde, fã dos filmes de Mohsen Makhmalbaf, finge ser o próprio cineasta, engana uma família e termina preso.

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