O crítico Michel Ciment entrevistou Roman Polanski em novembro de 1968, em Paris, na ocasião do lançamento de O Bebê de Rosemary. A obra-prima de Stanley Kubrick, 2001: Uma Odisseia no Espaço, foi citada por Polanski como um filme que lhe gerou interesse. “Já o vi duas vezes”, disse.
O que foi que o encantou em 2001?
Tudo, principalmente sua abordagem do assunto. Vê-se que ele é baseado na ciência, em tudo o que há de mais moderno. A primeira parte, sobre o macaco, é uma versão cinematográfica da mais recente teoria, que tem apenas vinte anos, e é maravilhosamente descrita em African Genesis, o livro de um dramaturgo americano, Robert Ardrey. O homem, não o homem, o que está entre o homem e o macaco, foi, inicialmente, o matador que se servia de uma arma, e foi isso que desenvolveu seu cérebro. Não foi seu cérebro que, ao desenvolver-se, o fez pegar em um osso para bater. O estímulo feito ao sistema nervoso aumenta com o passar do tempo e ele se desenvolve.
Então, a guerra é útil à humanidade?
Isso, não, é muito perigoso. O instinto de destruição é um dos instintos básicos, como o sexo, e a sociedade os destrói. Há outras sociedades na Terra, como as formigas e as abelhas.
Como você interpretou o final?
É muito ambíguo, mas chega-se a entender que, se existe uma inteligência superior, não somos capazes de compreendê-la nem percebê-la. Se ela age em nosso desenvolvimento isso pode acontecer despercebidamente. Ele [Kubrick] lhe deu uma forma cinematográfica. O que me agradou no filme, fora isso, foi o lado técnico, o lado mágico, as trucagens absolutamente fascinantes, essa viagem pelo espaço rumo ao fim, que é uma verdadeira trip. Existem pessoas que quebram a cabeça para mostrar o que acontece quando se toma LSD e que não conseguem; assisti a tentativas muito ruins em vários filmes. Sem tentar mostrar isso, ele realmente apreendeu o que se pode perceber quando se toma o LSD, eu conheço.
A entrevista de Ciment com Polanski foi publicada no livro Hollywood – Entrevistas (Editora Brasiliense; pgs. 234 e 235). Acima, uma das cenas finais de 2001: Uma Odisseia no Espaço; abaixo, Kubrick entre cenários.
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