Andrei Tarkovski: filmografia comentada

Não há sequer um filme medíocre na carreira de Andrei Tarkovski. Rigoroso, crente no espírito como motor da arte, o diretor soviético construiu uma filmografia exemplar com grandes filmes e ao menos três obras-primas. Muito para quem dirigiu relativamente pouco e morreu cedo, com 54 anos, em dezembro de 1986.

Os Assassinos (1956)

Esse curta-metragem de estreia baseia-se na obra de Ernest Hemingway, levada às telas outras vezes, nos Estados Unidos, por Robert Siodmak e Don Siegel. Com poucos recursos, o diretor consegue ótimo resultado. Em cena, dois homens param em uma lanchonete e procuram por um terceiro, que devem matar. Com co-direção de Marika Beiku e Aleksandr Gordon.

O Rolo Compressor e o Violinista (1961)

Média-metragem sobre a amizade de uma garoto (o violinista) com um operário. Ao fundo, uma União Soviética antiga desfaz-se aos olhos do menino enquanto outra se ergue, à medida que a impensável amizade ao centro da história se torna possível. A arte e a força de trabalho, lado a lado. Um belo filme sobre a infância.

A Infância de Ivan (1962)

Outra abordagem sobre a infância, dessa vez em meio à guerra. Tarkovski afirma que foi a partir da conclusão desse filme que começou a se sentir um verdadeiro cineasta e artista com algo a dizer. Há sequências marcantes e de pura beleza, como as que o jovem protagonista retorna ao passado perdido e feliz, momentos que duram pouco.

Andrei Rublev (1966)

Às aparências, é sobre alguns anos e experiências da vida do pintor russo do século 15. Mas Tarkovski vai além e entrega um painel histórico – ao mesmo tempo íntimo – sobre uma sociedade entre a religião e a barbárie. A personagem-título vaga por uma Rússia miserável, em crise de fé, pintando capelas e assistindo a atos horrendos.

Solaris (1972)

Chamado constantemente pelos apressados de “a resposta soviética a 2001: Uma Odisseia no Espaço”. É a empreitada mais ousada de Tarkovski. Ao contrário do que diz uma personagem, o homem está condenado não ao conhecimento, mas ao sentimento, aos problemas de seu interior. No espaço, o astronauta encontra o espírito da mulher morta.

O Espelho (1975)

A mãe e a mulher são interpretadas pela mesma atriz, Margarita Terekhova. Passado e presente mesclam-se nesse grande filme de memórias, inegavelmente pessoal. No plano mais famoso, sempre reverenciado, a criança caminha pela casa e vai ao encontro da imagem da destruição: o celeiro em chamas em dia chuvoso.

Stalker (1979)

Três homens precisam invadir uma área fechada, protegida pelo governo, conhecida como Zona. Nos confins desse espaço há um quarto e, nele, dizem as lendas, é possível realizar os desejos mais íntimos. Um dos homens em cena é o stalker, responsável por guiar um escritor e um cientista nessa missão de contornos existenciais.

Nostalgia (1983)

Um dos momentos mais fortes também é um dos mais simples: o poeta tenta atravessar uma piscina com a vela acesa. Tarkovski acompanha esse movimento de fé e resistência, curiosa empreitada que tanto nos magnetiza. Em cena, o mesmo poeta viaja à Itália em busca de informações sobre um importante compositor.

O Sacrifício (1986)

Para Tarkovski, a luta contra o impossível é um ato de fé. Algo como uma criança regando uma árvore seca. “Nosso mundo humano é construído, modelado, de acordo com leis materiais, pois o homem atribuiu à sua sociedade as formas da matéria morta e assumiu suas leis para si próprio. Por isso, ele não acredita no espírito e repudia Deus”, conclui o cineasta, ao escrever sobre O Sacrifício, em Esculpir o Tempo.

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Veja também:
Andrei Rublev, de Andrei Tarkovski

2 comentários sobre “Andrei Tarkovski: filmografia comentada

  1. Muito bom o formato, Rafael. Poderia fazer mais postagens nesse modelo de filmografias com curtas descrições dos filmes. Parabéns pela sua página!

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