Quase vinte séculos depois, em 1961, Cleópatra voltou a Roma, só que reencarnada em Elizabeth Taylor. O filme, Cleópatra, fora uma ideia do grego Spyros Skouras, presidente da 20th Century-Fox, em 1958, para remendar as combalidas finanças do estúdio e, originalmente, era um projeto até modesto. Custaria 2 milhões de dólares, nada de assustar, e teria a inglesa Joan Collins como Cleópatra, Peter Finch como César e Stephen Boyd como Marco Antônio. Mas Rouben Mamoulian, o diretor contratado por Skouras, não se contentou com uma estrelete como Joan Collins. Queria uma estrelona – Elizabeth Taylor. Skouras topou e, quando telefonou a Elizabeth para convidá-la, ela estava no banho e o telefonema foi atendido pelo marido dela, o cantor Eddie Fisher. Fisher deu-lhe o recado e ela gritou lá de dentro: “Diga a esse grego de merda que só faço por 1 milhão de dólares!” – quantia então impensável como cachê. Dois minutos depois, Eddie, de pernas bambas, voltou ao banheiro com a notícia: “Ele topou!”.
Um milhão de dólares por um filme em 1958-9 só teriam paralelo hoje se alguém fosse louco para pagar 1 bilhão de dólares a uma atriz. Skouras foi esse louco – nenhum ator jamais ganhara nem metade disso como salário. Mas esse foi só o primeiro de uma saraivada de descalabros e acidentes que demonizaram a filmagem de Cleópatra e, ao invés de salvar a Fox, a quebraram em 1963.
Ruy Castro, jornalista e escritor, no jornal O Estado de S. Paulo (“O primeiro e único “superespetáculo intimista” do cinema”, 19 de maio de 2001; o artigo foi republicado no livro Trêfego e Peralta; Companhia das Letras, pg. 204). Primeira escolha para dirigir o filme, Mamoulian depois foi substituído por Joseph L. Mankiewicz. No mesmo artigo, Castro recorda uma frase do cineasta Billy Wilder: “A maior tragédia grega que conheço chama-se Spyros Skouras”. Acima, Taylor em Cleópatra.
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