Na sociedade iraniana, há relações fortes entre garotos e os homens que não são seus pais. Os pais vão trabalhar e as relações com outros adultos, como os tios, os primos, os vizinhos, o entorno, são às vezes mais fortes que as relações com o pai. Não havia visto o filme [O Garoto] assim, mas agora percebo uma similaridade com os meus. Em O Garoto, como em meus filmes, E a Vida Continua, por exemplo, o pai troca de lugar com o filho. O menino tem a última palavra. Ele é o adulto.
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Nunca havia pensado que este filme voltaria a me impressionar tanto. Sabia que o havia visto quando tinha entre 10 e 15 anos e que não o havia visto de novo. Mas agora, vejo de outra maneira, não como naquela época, nem como um espectador comum. Este filme se relaciona comigo enquanto cineasta e por isso me comove. Hoje, ao vê-lo novamente, percebo que sem dúvida ele me marcou inconscientemente: anos depois, filmei uma cena similar [em O Vento nos Levará, uma pessoa esconde-se sob um amontoado de capim e se movimenta, o que sugere uma piada visual semelhante à outra vista em O Garoto, na qual um menino quase desaparece sob um amontoado de flores]. A novidade deste filme está na direção, que é fabulosa, o modo como a história é contada, a desenvoltura de Chaplin na arte de narrar apesar de o filme ser mudo. O problema do cinema atual é que as pessoas já não sabem contar histórias.
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Há uma similaridade entre os meus filmes e os de Chaplin, mas nem por isso manejamos a câmera da mesma maneira. As semelhanças são inevitáveis, porque há em nosso cinema uma lógica de vida e não uma lógica de imagem.
Abbas Kiarostami, cineasta, em entrevista à série Chaplin Today, nos extras do DVD brasileiro (Versátil Home Vídeo). Acima, Jackie Coogan e Chaplin em cena marcante de O Garoto.

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