15 grandes filmes que sintetizam o clima político dos anos 1960

Os movimentos de renovação do cinema, nos anos 1960, trouxeram forte abordagem política. Alguns cineastas deixaram ideologias às claras em obras extraordinárias e contestadoras, sem que renunciassem ao grande cinema em nome do panfleto. A lista abaixo traz 15 filmes com o espírito da época.

Os Companheiros, de Mario Monicelli

O cotidiano dos trabalhadores de uma pequena cidade muda com a chegada de um professor terno e idealista, interpretado por Marcello Mastroianni. Obra-prima de Monicelli, que se firmou como um dos principais cineastas do chamado cinema político italiano, entre o tom cômico e o trágico.

os companheiros

As Mãos Sobre a Cidade, de Francesco Rosi

O cineasta havia realizado, antes, o extraordinário O Bandido Giuliano. Em seguida, com As Mãos Sobre a Cidade, mantém pleno diálogo com seu tempo, ao abordar as tramoias de um político corrupto em prol da especulação imobiliária. Há grandes sequências de embates e manipulação.

as mãos sobre a cidade

Antes da Revolução, de Bernardo Bertolucci

Perfeito retrato do jovem que vive um impasse político: tenta se distanciar da burguesia ao mesmo tempo em que vê com receio os comunistas de então. Para alguns estudiosos, antecipa a discussão e o clima que tomaria conta do mundo com o Maio de 68, na França.

antes da revolução

O Desafio, de Paulo César Saraceni

Obra fundamental do cinema novo brasileiro. Como Antes da Revolução, apresenta o impasse de um jornalista e seu sentimento de impotência após o golpe de 1964. À época, alguns diálogos foram censurados pela Ditadura e, mais tarde, com a abertura política, tais trechos tiveram de ser dublados.

A Batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo

A independência da Argélia ainda era recente quando o filme estreou. Muitas das pessoas que participaram da obra, não-atores, viveram o evento real. Não por acaso, esbarra no documentário, com imagens granuladas e interpretações naturalistas. Um documento sobre resistência.

a batalha de argel

Despedida de Ontem, de Alexander Kluge

Ao lado de O Jovem Törless, de Volker Schlöndorff, é um dos filmes que deu origem ao novo cinema alemão. Nesse caso, a abordagem política não se desprega do passo a passo da protagonista, moça que vai da Alemanha Oriental para a Ocidental e encontra obstáculos, vítima de todos à sua volta.

despedida de ontem

A Chinesa, de Jean-Luc Godard

O principal filme a retratar o espírito de 68, antecedendo-o. Com sua música “Mao Mao”, de Gérard Guégan, com seus jovens de discursos constantes – e cortantes – empunhando o Livro Vermelho, com um clima de improvisação e liberdade. Em cena, a radicalidade da época.

A China Está Próxima, de Marco Bellocchio

O título, de novo, faz referência ao regime chinês. Na história, ele sai de uma pichação na parede da sede do Partido Comunista. Ao centro há um rapaz que assessora um homem milionário de carreira política e seu irmão, ligado ao grupo maoista. Alguns momentos aproximam-se da comédia.

Terra em Transe, de Glauber Rocha

Com Eldorado, Rocha faz um claro paralelo com o Brasil. O enredo é conhecido: o político populista é colocado a escanteio, ao passo que o poder termina na mão do líder autoritário e recheado de símbolos da Igreja. O protagonista assiste à transformação e depois adere às armas.

terra em transe

Partner, de Bernardo Bertolucci

As filmagens da obra de Bertolucci ocorreram na mesma época dos atos de Maio de 68. Membros de seu elenco e equipe aproveitavam as horas vagas para viajar à França e se engajar nas fileiras dos protestos. A obra bebe na fonte de Godard e é inspirada em O Duplo, de Dostoievski.

Memórias do Subdesenvolvimento, de Tomás Gutiérrez Alea

Considerado o maior filme cubano já feito. Reflexão sobre um homem que se divide entre ir embora da ilha, quando estoura a revolução, ou continuar por ali e assimilar as mudanças. Realizado sob o regime do líder Fidel Castro, ainda assim consegue ser crítico.

memórias do subdesenvolvimento

Se…, de Lindsay Anderson

Em 1968, devido aos protestos políticos, o Festival de Cannes foi cancelado. No ano seguinte, a Palma de Ouro terminou nas mãos de Anderson. Em um colégio interno conservador, um grupo de alunos rebela-se contra seus superiores e, ao fim, promove um ataque contra o poder.

se...

A Piada, de Jaromil Jires

Pequena obra brilhante da Nová Vlna (a nouvelle vague tcheca), que não passou despercebida ao olhar dos censores soviéticos. Por muito tempo não constou na filmografia de seu diretor. É sobre um homem expulso do Partido Comunista Tcheco e condenado a “serviços militares” forçados.

Dias de Fogo, de Haskell Wexler

Wexler foi um artista politicamente engajado e chegou a realizar um documentário sobre o golpe de 64 no Brasil, lançado em 1971. Seu Dias de Fogo capta o momento de transformações nos Estados Unidos, em 68, entre as primárias do Partido Democrata e a ebulição das ruas.

dias de fogo

Z, de Costa-Gavras

Mescla o tom de documentário ao suspense policial. Trata do caso Lambrakis, o político liberal assassinado na Grécia no início dos anos 60. Os poderosos trataram o caso como acidente, ainda que a morte tenha ocorrido em meio a uma multidão. Filme de resistência, poderoso do início ao fim.

z costa-gavras

SOBRE O AUTOR:
Rafael Amaral é crítico de cinema e jornalista (conheça seu trabalho)

Veja também:
Os 100 melhores filmes dos anos 2000

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