Para mim, Rashomon é o filme mais interessante de Kurosawa. Esse e Trono Manchado de Sangue foram os que se destacaram. Trono Manchado de Sangue era mais acessível, porque a maioria do público não japonês conhecia a história de Macbeth. Este [Rashomon] era mais criativo, porque acho que nunca havíamos visto algo assim. O principal é que quando vemos um filme, vemos os personagens na tela; não é como ler, quando imaginamos. Vemos coisas bem específicas: uma árvore, uma espada. Então, tomamos isso como verdade. Mas, neste filme, tomamos isso como verdade e depois descobrimos que não é, necessariamente, a verdade. E vemos as várias versões do episódio, as quais as pessoas recontam. E nunca ficamos sabendo qual é a verdadeira, o que nos leva à conclusão óbvia de que tudo é verdade e de que nada é verdade. Então, transforma-se em um poema e rompe essa ideia visual que temos de que se vimos algo, então, deve ser verdade.
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Nas cenas do julgamento, ou do depoimento, que se repetem, vemos as duas figuras atrás da pessoa que está depondo. Mas nunca vemos quem a interroga. Então, essa pessoa fala com o público como se o público fosse o interrogador. Como se eu, o público, perguntasse: “O que houve?”.
Robert Altman, cineasta, em depoimento que consta nos extras do DVD nacional de Rashomon (Versátil Home Vídeo; veja aqui o depoimento na íntegra, sem legendas). Acima, Toshiro Mifune em cena de Rashomon; abaixo, Altman durante seu depoimento.

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