(…) graças à Itália, pois, que o cinema japonês foi “descoberto”, com o Leão de Ouro conferido a Kurosawa no Festival de Veneza de 1951 por Rashomon. (…) O Festival requisitara ao Japão alguns filmes a serem inseridos na seleção, uma empresa árdua para as produtoras locais, que julgavam não ter nenhuma produção que pudesse agradar a um público ocidental. Entre as tantas explicações sobre por que se decidiu optar pelo filme de Kurosawa, a mais plausível parece ser aquela segundo a qual a escolha foi realizada por Giuliana Stramigioli, então responsável pela Itália Filmes no Japão, e que assistira à sua projeção convencendo-se de que fosse um potencial vencedor. Os dirigentes da Daiei, que haviam co-produzido Rashomon com a Eiga Geijutsu Kyokai, não eram da mesma opinião, mas de todo modo aceitaram a tentativa.
A vitória do filme desencadeou sentimentos contrastantes: por um lado representava a vitória de todo um país, uma boa injeção de confiança para um povo destruído e um ótimo cartão de visitas para apresentar-se ao mundo; por outro, expôs o problema de ter oferecido uma imagem exótica da própria cultura, dando uma piscadela para o Ocidente (uma das principais críticas feitas ao diretor no lançamento do filme, determinada principalmente pelo caráter analítico insólito da narração). O mesmo tipo de polêmica certamente não faltou no Ocidente, onde com aqueles que aclamavam a obra-prima haviam muitos que a definiam como exótica, procurando referências hipotéticas a outras obras ocidentais ou querendo explicar o “fenômeno Rashomon” como um fruto da ocupação.
Maria Roberta Novielli, professora de cinema e literatura japoneses, em História do Cinema Japonês (Editora UnB; pgs. 146 e 147). Acima, Machiko Kyô em cena de Rashomon; abaixo, Toshirô Mifune.
Curta nossa página no Facebook e siga nosso canal no YouTube
Veja também:
Nagisa Oshima entrevista Akira Kurosawa