Era ainda o tempo do VHS. Garimpei um filme restaurado por iniciativa do Martin Scorsese e por alguns dias fiquei tentando entender como aquilo foi possível: um longo travelling sobre um cortejo pelas ruas de Havana. O filme chamava-se Eu Sou Cuba, um documentário russo, rodado nos primeiros tempos da Revolução Cubana. Na época, desagradou ambos os lados, Cuba e União Soviética, e foi escondido em algum lugar. Novos tempos o encontraram. E está lá um dos movimentos de câmera mais fantásticos e/ ou inacreditáveis que já vi em cinema. Na época e depois, não consegui resolver a questão, descobrir como aquilo foi realizado. Um dia, tropecei com o Soy Cuba – O Mamute Siberiano [2004, de Vicente Ferraz], um documentário brasileiro sobre o Eu Sou Cuba. Ele mostra como a mágica foi feita.
José Wilker, ator, em depoimento ao jornal Folha de São Paulo (“Imagem é Tudo”, Caderno Mais!; 24 de janeiro de 2010; leia aqui), ao ser convidado a escolher a cena que, para ele, sintetiza a história do cinema.
A partir do depoimento do ator, é necessário observar duas questões: Eu Sou Cuba, apesar de captar situações reais do cotidiano do povo cubano e trazer à tela não atores, é ficção, não documentário; e, mais que uma cena, a passagem relatada por Wilker é uma sequência, pois está delimitada não a um único espaço, mas a uma ação, já que começa na rua, sobe ao alto do prédio, invade um andar no qual trabalhadores seguem à sacada para estender a bandeira de Cuba e continua vagando entre prédios, do alto, sobre o cortejo. Sem dúvida, uma aula de cinema.
O documentário Soy Cuba – O Mamute Siberiano foi lançado em DVD no Brasil pela Imovision e se revela necessário após Eu Sou Cuba (à espera de uma edição em DVD no Brasil à altura do filme). Acima e abaixo, imagens da grande sequência do filme de Mikhail Kalatozov.
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A cena é simplesmente espetacular!
Também acho. Aula de cinema.