Era um domingo. Ele estava com uma mulher, mas não morreu, como reza a lenda, “durante”. Morreu “depois”, quando voltava do banheiro. É possível que, quando pressentiu o ataque, tenha tentado ainda vestir rapidamente a calça – em vez de tomar o comprimido salvador. Seu chofer, Otto, foi o primeiro a acudir o morto, caído na cadeira. O grito da última namorada de Lubitsch o alarmou. O primeiro cuidado de Otto foi manter a reputação da mulher. Ele a levou embora antes de informar a polícia e o atendimento médico.
Walter Reisch, com quem havíamos escrito Ninotchka e que eu conhecia desde os tempos de Berlim, foi o primeiro de seus amigos a chegar. O segundo fui eu.
Lubitsch foi sepultado no dia 4 de dezembro no cemitério de Forest Lawn. Do alto das colinas levemente onduladas onde fica esse belo cemitério, que com suas árvores grandes, seus vastos campos e lápides fincadas na relva mais parece um campo de golfe, vê-se Hollywood lá embaixo.
Quinze anos depois do sepultamento de Lubitsch, Walter Reisch foi ter comigo, perguntando se não devíamos levar flores ao seu túmulo. Levamos as flores e, quando íamos embora, vimos aos pés do túmulo uma lápide onde havia a inscrição “Steffi Trondl”. Steffi Trondl foi a secretária de Lubitsch durante muitos anos, datilografou muitos de seus roteiros e conhecia como ninguém seus colaboradores e amigos. Lubitsch lhe deixou 5 mil dólares de herança. Com esse dinheiro, ela comprou um túmulo no Forest Lawn, bem abaixo do túmulo do mestre. Ela queria estar ali caso ele ainda quisesse ditar alguma coisa rapidamente. Morreu aos 77 anos.
Billy Wilder, cineasta, em Billy Wilder: E o Resto é Loucura, de Hellmuth Karasek (Editora DBA; pgs. 174 e 175). Wilder foi roteirista de Lubitsch antes de se tornar diretor. Acima, Lubitsch com seu Oscar honorário; abaixo, ele dirige Greta Garbo na comédia Ninotchka.
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