É preciso estar atento à realidade do cinema. Não acredito muito nela. Acredito que o cinema se alimenta de sonhos, de nostalgias e de desejos coletivos, muito mais do que da realidade. Acredito que o cinema, através da arte, da criação e da imaginação, revela uma realidade escondida que não dá para ser descrita. O cinema consegue criar uma coisa especial. O cinema, como a grande música, conforta o espírito. A verdadeira grande música, como o grande cinema, é sempre confortante. Ao contrário da pintura ou da arquitetura. A literatura, porém, sim. Lenz, de Georg Büchner, é um romance confortante. Para mim sempre foi mais importante trabalhar nos momentos em que se sabe que, apesar do tempo, nos aproximamos de pessoas que já morreram graças aos filmes que ainda são projetados. Que sentimos algo muito forte e sabemos que, no fundo, não estamos sozinhos.
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Poderíamos dizer que muitas das imagens que mostrei no cinema e que o público acha original ou diferente são na verdade imagens muito simples, que se escondem dentro de nós. São imagens dormentes que, como um amigo, repousam dentro de nós.
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Sempre tenho a impressão de que no cinema é necessário fazer um retrato do homem, isto é, uma gramática da imagem que o defina de uma forma melhor. Fazer este retrato significa definir quem somos, qual é a nossa história e como serão nossos netos. Se queremos realmente ir a fundo nas coisas é preciso manter uma longa distância. Se quer descobrir uma cidade e entender sua estrutura, a melhor coisa é subir até uma colina. De lá, se enxerga as ruas, os prédios e o panorama geral da cidade. Coisa que não vemos quando estamos dentro da cidade. Desde meu primeiro filme, Sinais da Vida, sempre tive a sensação – e já disse isso antes -, que o cinema precisava de imagens novas. Imagens adequadas ao nosso nível de civilização. Quando vemos propagandas nas revistas ou na televisão, vemos imagens atrasadas em relação à nossa civilização. E isto é uma catástrofe, pois uma civilização que não encontra uma linguagem adequada, ou uma imagem adequada, está condenada a morrer como os dinossauros.
Werner Herzog, cineasta, em depoimento no documentário O Mundo Contemplativo de Herzog, de Peter Buchka (nos extras do DVD de Aguirre, a Cólera dos Deuses; Versátil Home Vídeo). Acima, Herzog nas filmagens do curta-metragem La Soufrière; abaixo, nas filmagens de Fitzcarraldo.
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