Eu queria, através de Brigitte, restituir o clima de uma época. Juliette, a personagem de E Deus Criou a Mulher, é uma garota do seu tempo, que se se liberou de todo sentimento de culpabilidade, de tabus impostos pela sociedade e que tem uma sexualidade livre. Na literatura e nos filmes de antes da guerra, teríamos a chamado de prostituta. Ela é nesse filme uma jovem mulher, generosa, meio sem rumo e finalmente inacessível, que somente se salva pela sua generosidade.
Roger Vadim, cineasta, realizador de E Deus Criou a Mulher, no qual Brigitte Bardot interpretada Juliette, em Brigitte Bardot (Coleção Folha Grandes Astros do Cinema; pg. 24).
Juliette foi a primeira garota “moderna” do cinema. Ela é uma órfã de dezoito anos, com uma então incomum espontaneidade animal – não pensa duas vezes quando está a fim de tomar sol nua ou de dar umas voltinhas com Christian Marquand, um dos rapazes da cidade. Mas mora com uma família em Saint-Tropez, que a vê como vagabunda e quer puni-la com um internato. Para evitar isso, Juliette se casa com Jean-Louis Trintignant, irmão mais novo de Marquand. Mas Trintignant é um mosca-morta, que se submete a todo tipo de humilhação, inclusive a uma recaída de Juliette com Marquand. Então Juliette provoca Trintignant obrigando-o a lutar até fisicamente por ela e dar uns tapas nela própria. Ela faz dele um homem, salva seu casamento e, pelo visto, se deixa domesticar. Mais uma vez, Nelson Rodrigues tinha razão.
Ruy Castro, jornalista e escritor, em Um Filme é para Sempre (Companhia das Letras; pg. 213; Deus Criou a Mulher; agora, o DVD a recriou, em 3 de setembro de 2000). Acima e abaixo, a atriz Brigitte Bardot.
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