Amor e ódio em Johnny Guitar

Durante as filmagens de Johnny Guitar, eu li que você trazia flores para Mercedes McCambridge, mas não para Joan Crawford, ou vice-versa, apenas para criar uma tensão entre elas. É verdade?

 

Uma noite, Joan Crawford ficou bêbada e jogou as roupas de Mercedes McCambridge na estrada. Ela era uma ótima atriz, mas às vezes a raiva tomava conta de seu temperamento. Elas eram muito diferentes e Crawford odiava McCambridge.

Nicholas Ray, cineasta, em sua última entrevista, concedida a Kathryn Bigelow e Sarah Fatima Parsons, na Cinematographe Magazine (julho de 1979; a entrevista foi republicada no catálogo da mostra O Cinema é Nicholas Ray, CCBB; pg. 174). Ray morreu em 16 de junho de 1979 e a entrevista foi realizada pouco antes, em maio.

No mesmo catálogo (pg. 34), há uma nota do crítico de cinema Ely Azeredo que acompanha a republicação de sua crítica de Johnny Guitar, na qual diz que as “correntes de sexualidade e política”, contidas no filme, “passaram praticamente despercebidas na época do lançamento”. O crítico observa:

A alegada bissexualidade de Ray facilitaria – driblando as censuras – que o ângulo histérico da trama fluísse a partir da tensão sexual entre Vienna e Emma. Apesar da sinalização heterossexual entre elas e “seus” pistoleiros, a libido não se esconde no conflito de poder entre as duas personagens.

Na mesma nota, Azeredo traz uma informação interessante:

Na época [do lançamento do filme, em 1955] não se sabia que a história chegou às mãos de Nicholas Ray depois de comprada por Joan Crawford; nem que os dois haviam sido amantes.

Em sua crítica na Tribuna da Imprensa, em agosto de 1955, Azeredo diz que Crawford “é apenas uma charge, sem espírito, de seus grandes dias”. Já para o crítico e cineasta François Truffaut, em Os Filmes da Minha Vida (Editora Nova Fronteira; pg. 179), Crawford

está fora dos limites da beleza. Tornou-se irreal, como o fantasma de si própria. O branco invadiu seus olhos, os músculos seu rosto. Vontade de ferro, rosto de aço. Ela é um fenômeno. Viriliza-se ao envelhecer. Sua interpretação crispada, tensa, levada ao paroxismo por Nicholas Ray, é por si só um estranho e fascinante espetáculo.

Acima, McCambridge e seus pistoleiros em cena do filme; abaixo, Crawford e McCambridge posam para fotos.

ACOMPANHE NOSSOS CANAIS: Facebook, YouTube e Telegram

Veja também:
Ontem, Hoje e Amanhã, de Vittorio De Sica

2 comentários sobre “Amor e ódio em Johnny Guitar

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s