Acho que decidi muito cedo qual seria o meu trabalho na vida, qual seria a minha vida e o meu caminho, parecia que eu havia identificado meu itinerário, que tinha entendido que esse seria o meu destino: conte histórias. Por que eu decidi isso em vez de me tornar um padre ou um palhaço de circo – embora em certo sentido eu esteja fazendo ambas as coisas -, eu não posso dizer agora. Mas me lembro que na escola a maioria dos meus companheiros tinha ideias muito claras sobre o que eles queriam ser. Um deles tinha certeza de que se tornaria almirante e, de fato, teve sucesso. Suas ideias pareciam mais precisas, eles sabiam como iriam organizar suas vidas. Eu só sabia o que não ia fazer. Eu não ia fazer nenhuma das coisas que os meus colegas de escola achavam que iam fazer. Eu sabia que não ia ser advogado – que era o que meu pai queria – ou um capelão – o desejo de minha mãe – e eu certamente não seria um engenheiro, como meu melhor amigo.

 

Na verdade, eu estava um pouco confuso sobre o que minha carreira seria. Pensei em ser ator ou jornalista, escritor ou pintor, artista de marionetes, cantor… e com todas essas escolhas semelhantes e contraditórias, não consegui decidir, afinal. Hoje me parece que estou em uma profissão que une, mais ou menos, todas essas várias possibilidades. Um diretor de cinema é um pintor, um jornalista, um escultor, um ator. De qualquer forma, acho que minha ocupação não contradiz nenhuma dessas ideias iniciais.

Federico Fellini, cineasta, em entrevista a Gideon Bachmann na revista Film Comment (maio/junho de 1985; leia aqui em inglês; a tradução é deste site). Acima e abaixo, Fellini em ação.

Curta nossa página no Facebook e siga nosso canal no YouTube

Veja também:
Fellini segundo Malle