Assim como em O Império Sentidos, a história é sobre um homem e uma mulher que não hesitam em alinhar sua existência diária com seus impulsos sexuais mais profundos. Hoje em dia, nada me interessa tanto quanto abordar as várias formas que o amor pode assumir com pessoas que só podem ser salvas por esse amor.
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O espaço em Sentidos foi delineado pelas diferentes salas de amor. Foi criado artificialmente, completamente projetado para voluptuosidade. Por outro lado, em Paixão tudo é sobre a natureza. Seki tem uma casa onde mora com o marido, e Toyoji um pequeno casebre que compartilha com seu irmão mais novo. Nenhum desses lugares é artificial. Os dois amantes vivem com medo porque se sentem constantemente ameaçados pela natureza. Estou tentando descrever a condição humana em seu estágio primordial. Nesse sentido, meu novo filme remonta às raízes de toda a vida, muito mais profundamente do que Sentidos fez. Os amantes parecem lançados no inferno por causa de seus impulsos sexuais, mas na minha opinião, o estrondo da terra, o murmúrio do vento, o farfalhar das árvores, o canto dos pássaros e insetos, enfim, toda a natureza, está guiando o casal para o inferno. E o próprio fantasma é parte da natureza. Nem o sexo nem o amor têm qualquer significado. A vida em si não tem significado. E se não tem significado, não é um inferno? Tudo o que posso fazer é expressar e projetar diante de você essa vida humana desprovida de qualquer significado, esse inferno que para mim é sempre lindo.
Nagisa Oshima, cineasta, em entrevista a Michael Henry, na revista Positif, reproduzida no site do selo The Criterion Colletion (leia aqui; a tradução é deste site). O Império da Paixão foi lançado em 1978, dois anos após O Império dos Sentidos, e deu ao cineasta o prêmio de diretor em Cannes.
Veja também:
Kagemusha, a Sombra de um Samurai, de Akira Kurosawa