Diretores de diferentes gerações do cinema nipônico, os gigantes encontraram-se em agosto de 1993, quando Kurosawa já havia lançado seu último filme, Madadayo. Abaixo, alguns trechos da entrevista.
Qual dos filmes que você fez depois da guerra que apontavam a direção que você queria tomar?
Nos meus primeiros filmes, acho que eu tentei colocar tudo o que havia aprendido. Mas, com O Anjo Embriagado, de repente eu me senti libertado. Acho que fiquei mais atrevido. Eu não me contive nem quando estava escrevendo. Foi nesse filme que comecei a me sentir assim. Fora isso, nunca pensei em descobrir a minha direção. Eu só me preocupei em ser natural. Eu sempre me mantenho natural e sigo meus instintos. Eu não faço nada de uma forma estratégica. É assim que eu trato os personagens em meus filmes. Mesmo com os relacionamentos humanos…
(...)
Os personagens vêm primeiro, antes da história?
É mais eu distender uma ideia que eu considero interessante. Essa é a coisa mais importante, claro. Os críticos podem ver o que quiserem em meus filmes, mas eu não faço filmes de forma tão calculada quanto eles pensam. O que eles veem está lá como parte do que achei interessante. Se eu tentasse descrever essas coisas que os críticos veem, você não acha que ficaria difícil de assistir? Eu faço filmes sobre coisas que eu realmente acho fascinantes. Ao fazê-lo, posso acabar por examinar a natureza humana. Mas, se você tentar apresentar alguma teoria no seu filme, você não conseguirá retratar nada. É muito difícil encontrar o equilíbrio certo.
(…)
Em seu filme mais recente, Madadayo, foi uma coprodução da Daiei com a sua produtora e, quando o filme é distribuído no exterior, a sua produtora ganha dinheiro com isso, claro?
O meu filho Hisao cuida disso atentamente. Ele trabalha duro para levantar dinheiro de várias fontes.
Ele tem uma tarefa difícil como presidente da empresa…
Com certeza.
Ele me conta suas preocupações.
Ele diz que seria melhor se eu parasse de trabalhar porque é um inferno quando eu trabalho. Eu digo isso o tempo todo, mas o cinema é como uma praça pública. Lá na tela você vê a vida de pessoas que moram em países diferentes. Conforme você assiste, você chora, ri, fica com raiva, se harmoniza com essas pessoas e você passa a entendê-las. Ele é um meio muito valioso de conectar as pessoas, inclusive no sentido político. Para que o cinema japonês realmente volte a ser o que foi no seu auge o governo precisa apoiá-lo mais. O governo francês faz isso, embora o cinema francês ainda esteja lutando.
O governo deles dá um certo apoio.
Em outros países, os políticos se interessam muito por cinema e assistem a muitos filmes.
A entrevista pode ser assistida em sua versão completa, com quase duas horas, nos extras do DVD duplo de Os Sete Samurais (Europa Filmes). Abaixo, Oshima e Kurosawa durante o encontro.
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