Ele tinha me visto em Cabaret e pensava que eu fosse alemã, por causa do meu sotaque no filme de Bob Fosse. Ele ligou para Stanley Donen, que me conhecia muito bem, desde que eu era criança, pois era amigo de meus pais na Suíça. E ele me avisou que Kubrick ia me telefonar, pois queria que eu trabalhasse em seu próximo filme. Quando ele entrou em contato comigo, começou me falando, durante horas, de minha interpretação em Cabaret, com uma riqueza incrível de detalhes. Fiquei tão espantada que não consegui dizer uma palavra! No fim, me disse que estava preparando um filme sobre o século 18, e queria que eu interpretasse uma condessa inglesa, ele me enviaria o livro de Thackeray para que eu lhe dissesse o que pensava dele. Seis meses mais tarde, eu o conheci pessoalmente, quando fui viver em Londres para a preparação do filme. Fiquei lá dois ou três meses para aprender a dançar minueto, a usar um leque à maneira da época, a aperfeiçoar o sotaque de uma aristocrata inglesa, a cavalgar sentada de lado. Depois experimentei as roupas, a maquiagem, a peruca etc. Então ele me pediu para ir à Irlanda, onde se passava a primeira parte do filme, em que eu não aparecia. Fiquei três meses lá, sem filmar nada, e, quando lhe perguntei se podia voltar para casa no Natal, ele me disse para ficar ali, pois poderia precisar de mim no dia seguinte! Queria que seus atores estivessem sempre presentes, caso mudasse de ideia, pois não havia um roteiro totalmente escrito, e todos os dias ele fazia modificações.
Marisa Berenson, atriz, sobre sua entrada em Barry Lyndon, de Stanley Kubrick, em depoimento dado em junho de 1999 e reproduzido no livro Conversas com Kubrick, de Michel Ciment (Cosac Naify; pg. 286). Acima e abaixo, Berenson em cena de Barry Lyndon.
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