Se você não está prestando muita atenção em um dos filmes de Nic, você não sabe o que está acontecendo, porque muito pouca informação é levada ao diálogo. Nesse sentido, os filmes de Nic têm essa linha direta com o cinema mudo. Eu adoro quando um filme conta sua história através de imagens e ninguém diz alguma coisa. Se fosse Game of Thrones, no final a mulher teria se voltado para Julie Christie e dito: “Você está se sentindo bem?” “Estou me sentindo um pouco doente esta manhã, espero não estar grávida.” Teria sido assim em Breaking Bad também.
Mas se você olhar e vê-la, você entende que o marido dela era mediúnico. Nic está tentando falar sobre coisas que não podem ser ditas. Se você fala sobre elas, elas soam banais, e você as rejeita tanto quanto Donald Sutherland rejeita tudo o que sabe ser verdadeiro naquele filme. Ele é o cético que diz ao longo do filme: “Não, isso é besteira, estas são velhas estúpidas, elas estão se aproveitando de você”. E, claro, o que está sempre falando é que ele é o único com a premonição, o único que está tendo essas visões terríveis e que está em total negação. Se você verbalizar essas coisas, ou você as torna muito banais ou inacreditáveis. Considerando que, se você mostrá-las e deixar o público experimentá-las, você terá a noção do que está por aí.
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O trabalho de Nic durará. Daqui a cem anos, veremos os filmes de Nic. Nós não vamos estar olhando para os filmes de blá blá, que ganhou o Oscar no ano passado. Não importa quem elas são, porque são todas iguais, essas pessoas. Elas são apenas pessoas que foram promovidas por Harvey Weinstein durante uma semana.
Bernard Rose, diretor, em entrevista ao documentário Nicolas Roeg – It’s About Time, em 2014 (leia aqui em inglês; a tradução é do site). Em seu depoimento, Rose refere-se ao filme Um Inverno de Sangue em Veneza. Abaixo, o diretor Nicolas Roeg nas filmagens de A Longa Caminhada.
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