Mais do que um suspense hitchcockiano, a impressão é a de um filme de terror. São os olhos assustados, as faces, os culpados por essa forma à qual o diretor Chan-wook Park não cansa de se lançar em A Criada, até chegar ao mau gosto.
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Doses consideráveis de sadismo vêm sob a embalagem do “filme de arte”. Muito menor do que parecem, os ambientes são ampliados pela grande-angular, em um espaço de depravação suntuoso, feito para impressionar o espectador. E não se nega a beleza, ainda que esteja a serviço de um filme desagradável e mecânico.
A começar pela relação entre as mulheres, a criada Sook-Hee (Tae-ri Kim) e a senhora Hideko (Min-hee Kim), sem sensibilidade e mistério. O filme primeiro abre espaço ao olhar da primeira, a criada contratada para enganar a patroa; depois leva à segunda, que talvez não seja tão ingênua e desequilibrada quanto parece.
O cineasta coreano não se aprofunda na cumplicidade entre ambas, preferindo a narrativa de diferentes caminhos e olhares, de surpresas variadas, de sustos e do já citado sadismo: momentos em que o “inesperado”, nesse jogo, é peça previsível.
As atrizes são bem escolhidas. Tae-ri Kim tem pouca carne a expor. Tem a face um pouco mais quadrada, em oposição à companheira japonesa, de rosto redondo, a Min-hee Kim de carne saliente e pele mais clara. Essas pequenas diferenças geram certa atração, sobretudo quando os corpos atracam-se sobre a cama.
A criada é contratada por um charlatão para fazer a patroa acreditar que ele está realmente interessado nela. Ao homem interessa apenas o dinheiro. Nesse meio de enganações (outras surgirão), a criada descobre-se apaixonada pela outra mulher.
A cena de sexo é mostrada duas vezes. Na segunda, é alongada, com o propósito de evidenciar o desejo mútuo e dar mais profundidade. É um momento constrangedor no qual o que poderia ser desejo dá vez às palavras. Desajeitada, às vezes cômica, a cena prova de que Chan-wook está mais interessado em formas estranhas.
Nesse belo banquete de comida fria, o espectador espera pelo pior, ou pelo inesperado, pela maneira como as mulheres estão ligadas para colocar um plano maior em ação: destruir homens repulsivos que delas querem apenas alguns pequenos serviços ou mesmo o dinheiro, homens inferiores e desagradáveis. Não chega ao conflito entre classes, e quase não convence em seu conflito entre sexos.
(Ah-ga-ssi, Chan-wook Park, 2016)
Nota: ★★☆☆☆
Veja também:
A saga Lady Snowblood, de Toshiya Fujita
Parece ser um filme super interessante. Vou tratar de assisti-lo. Obrigada por compartilhar dele conosco. Parabéns pelo blog!
Eu que agradeço a visita. Abraços!
Hahahaha….adorei: vc destruiu o filme e msm assim despertou o interesse da Maria.
Uma boa crítica de um dos melhores filmes da década.