O menino Yang-Yang é o ponto de confluência de um filme pensado como um quadro pontilhista, em que dezenas de pequenas partículas se fundem num todo indivisível. Yang-Yang pergunta ao pai se é possível entender inteiramente aquilo que está à nossa volta ou apenas a metade. Não espera pela resposta. Sai fotografando as pessoas de costas, “para que elas possam ver além daquilo que está à sua frente”.
É um achado que guia o filme como um todo – o invisível como complemento do visível. Ao contrário da televisão, que pratica o tudo-mostrar, Edward Yang opta por não dramatizar a imagem. Só mostra parte daquilo que acontece, mantendo a câmera à distância do melodrama. Uma tentativa de suicídio e um assassinato acontecem fora de quadro. Algo impensável no cinema americano contemporâneo (mesmo em sua face mais moderninha, como no caso de Pulp Fiction…).
Walter Salles, cineasta, sobre As Coisas Simples da Vida, de Edward Yang, na Folha de S. Paulo (Ilustrada, 3 de fevereiro de 2001; leia aqui o texto completo). O artigo foi reproduzido também no livro Na Estrada – O Cinema de Walter Salles (PubliFolha; pg. 280). Abaixo, Jonathan Chang, que interpreta Yang-Yang.
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