O sociólogo segue uma possível história verdadeira: a mulher que ele estuda, a qual visita na prisão, teria sido vítima dos homens, da sociedade. Em Uma Jovem Tão Bela Como Eu, a história move-se contra a mesma mulher, que se aproveita dos outros, uma bela que simplesmente sente prazer em ser má.
O terreno é o da diversão. O diretor François Truffaut, na rabeira do cinema clássico, sabe que as melhores vilãs gostam de praticar o mal. A sua, nas curvas de Bernadette Lafont, não foge à regra – é tão endiabrada quanto a Jean Peters do grande Anjo do Mal.
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Feita para bagunçar, Camille Bliss (Lafont) recebe na cadeia um sociólogo que deseja estudá-la. Seu trabalho é voltado às assassinas. Chegam a oferecer a ele outros casos, inclusive alguns mais assustadores. O rapaz insiste em entrevistar Camille.
A moça explosiva logo se impõe: enquanto se curva ao homem não para aceitar suas teorias, mas para se mostrar forte, convence o público de seu comando. E ele, tão simplório e bobo em sua forma intelectual, deverá aceitar esses termos.
Vivido por André Dussollier, Stanislas é como o Cary Grant de Levada da Breca, de Hawks – com teorias, óculos e terno impecável. Também a confirmar a regra de Truffaut: os homens, em comédias exageradas, quase sempre são iguais.
Sobretudo na presença da voluptuosa Camille, capaz de tragá-los pelo sexo. Outra confirmação não passará despercebida: a comédia maluca, ou macabra, não permite mergulhos em teorias científicas. As mulheres matam por desejo, ou simplesmente porque o material é cinematográfico. Não se escondem as regras.
Truffaut retorna à história de crime regada à comédia, como se viu em A Noiva Estava de Preto. Lafont mescla sexualidade e infantilismo, saltos de menina e um jeito um pouco depravado, moldada à carne. Ninguém duvida de que esmagará os homens pelo caminho, a começar pelo marido que remete ao pai, ou, no polo oposto, o próprio sociólogo que dela não pode retirar algo científico, ou a confirmar suas teorias.
Uma Jovem Tão Bela Como Eu baseia-se na força feminina e em seus contrapontos: homens cegos, advogados corruptos, falsos moralistas, professores idiotas e, ao canto, garotas que não se cansam de dizer a verdade. Mas os homens só creem nas vilãs.
(Une belle fille comme moi, François Truffaut, 1972)
Nota: ★★★☆☆
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