Dos três homens que cruzam a vida de Bathsheba Everdene apenas um recusa a transformação. É o mais pobre, que tenta ter sua propriedade e perde tudo quando suas ovelhas caem de um precipício. Chama-se Gabriel Oak (Matthias Schoenaerts).
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Sob o olhar do diretor Thomas Vinterberg, em Longe Deste Insensato Mundo ele é o mais interessante dos três. Ainda assim, não é fácil compreender por que a moça nega-o. Diz, no início, quando ele propõe o casamento, que prefere a liberdade. O que Gabriel oferece custa caro à mulher emancipada: uma vida comum, as funções da esposa.
As surpresas são rápidas nessa nova versão da obra de Thomas Hardy, com o roteiro enxuto de David Nicholls, e a velocidade, curiosamente, torna-se o principal problema do filme. Enquanto se pede tempo para o desenvolvimento de tantas situações e personagens, o que se vê sempre é aperto, economia e algum atropelo.
Não que seja uma experiência desagradável, nem cinema menor. Vinterberg é talentoso mesmo em terreno que lhe parece estranho. Em A Caça, por exemplo, o material segue em direção oposta: o drama pertence a uma única personagem e, de uma situação, todo o resto desenrola-se sem firulas, em crescente, até chegar à perfeita conclusão.
São cinemas opostos, é verdade. Longe Deste Insensato Mundo termina negando a própria grandiosidade: tanta beleza não sacia, não garante a experiência marcante. Nesse sentido, o capricho passa-se por grandeza, como se compromisso não houvesse.
Provável que a escolha da atriz para viver Bathsheba contribua. Carey Mulligan, como saída de um material à la Jane Austen, mantêm-se no terreno da passagem, como a adolescente com medo do flerte, do desejo, em constante estranhamento.
Seu casamento só poderia ser um acidente. Seu companheiro – não para a vida toda, como Gabriel – é Francis Troy (Tom Sturridge), um sargento que perdeu a mulher que amava e não aceitou a situação. Tornou-se um barão, o “dono” de Bathsheba. A atração que gera não compensa o que representa: o marido em sua forma mais retrógrada.
Antes dele há espaço para outro, o vizinho atraente a quem a heroína envia uma carta, como brincadeira, e que o confunde. Termina apaixonado por ela, pede-lhe em casamento e, mesmo com tanto a oferecer, rende a imagem da qual a moça quer fugir.
William Boldwood (Michael Sheen), como os outros, observa, a distância, a mulher raquítica que tenta vender os grãos de sua fazenda em uma feira frequentada apenas por homens. Antes, era Gabriel quem tinha uma propriedade – ou quase isso. Depois, quando ela herda as terras do tio, o homem pobre torna-se seu criado.
A única saída é aceitar o homem que nada tem a oferecer – no sentido material. É Gabriel, silencioso, quase sempre servil, que lança o público à zona do drama: em sua imagem, tão perfeita e tão comum, vê-se que há mais do que amor em jogo.
Vinterberg acerta ao evitar excessos. Para Bathsheba, cada um desses homens oferece uma representação: em cena estão o criado, o burguês e o militar. Talvez não queira nenhum deles, nem amar com intensidade. Descobre que isso é impossível. Sua dúvida está entrelaçada ao sofrimento.
(Far from the Madding Crowd, Thomas Vinterberg, 2015)
Nota: ★★★☆☆
Veja também:
A Caça, de Thomas Vinterberg
Bom dia caro amigo. Você poderia, por favor, postar extensas resenhas ( como a Wikipédia em inglês e o IMDB) de filmes indicados a qualquer categoria do Oscar ( Thunderball, The spy who loved me, Raiders of the lost ark, ET, Beverly Hills cop, The hunt for red october, Die hard, Big, etc.). Seria a SESSÃO DO OSCAR. Sem mais, Manuel, Antonio Manuel. Muito obrigado.
Olá Antônio. Obrigado pela ideia. Em épocas mais próximas do Oscar, costumo fazer vários posts sobre o assunto. Sobre uma categoria apenas para o prêmio, isso é uma questão a ser estudada. Obrigado pela visita, e volte sempre! Abraços!