Apesar de erotismo em cada centímetro de película, as belas mulheres de Faster, Pussycat! Kill! Kill! fazem do sexo – e de seus atributos físicos – apenas um meio para trapacear. O sexo, diz o cineasta Russ Meyer, torna-se brincadeira.
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Com quase tudo a mostrar, elas enganam, primeiro, o espectador. O diretor prefere o flerte, não a gratuidade. Sua obra mais famosa sequer pode ser considerada erótica: há em cena uma mulher dominadora, outra um pouco calada, perigosa, e uma terceira, loura, que não consegue fazer sexo com um grandalhão abobalhado.
Os homens nada podem fazer. O mais forte deles é impotente, preso a uma cadeira de rodas – e, ao que parece, um pedófilo. Eles lutam como podem para derrotá-las. O filme resume-se a um delírio, com corridas no deserto, seios avantajados e assassinatos.
É uma brincadeira sem qualquer humanidade, uma balada despregada de contornos sérios. É diversão assumida – o que explica ter se tornado objeto de culto de diretores como Quentin Tarantino, obrigatório em sessões à meia-noite.
O trio de go-go dancers é encabeçado pela japonesa Varla (Tura Satana), mais interessada em velocidade e dinheiro do que em homens. Suas companheiras são a morena Rosie (Haji) e a loura Billie (Lori Williams).
O filme começa com uma corrida de carros desenfreada pelo deserto, e com Billie lançando-se em um rio para se refrescar. A ausência de um enredo logo é sentida. O filme prefere o estilo, qualquer desculpa para que as mulheres entrem em combate.
Elas deparam-se com um rapaz e uma adolescente no deserto. Desafiam-no a uma corrida de carros. Mais tarde, Varla mata-o e sequestra a garota. O filme ganha novas voltas e o trio termina na propriedade de um homem poderoso, preso à cadeira de rodas empurrada por seu filho, forte mas sem cérebro, chamado Vegetal.
A fusão das mulheres à ação proposta por Meyer dá ao filme um toque especial, como um Fellini americano chegado a curvas perfeitas, ou mesmo ao ideal da mulher de seu país: bela, dominadora, cujas curvas são destacadas na tela.
São mulheres falsas, obviamente. Interpretam menos e, limitadas a alguns gestos, preferem apenas posar para a câmera de Meyer. Talvez seja injustiça dizer que não exista interpretação. São fortes, alçadas à condição de objeto de desejo.
A partir de trama rala, Faster, Pussycat funciona como brincadeira assumida, exercício de estilo, excentricidade de um diretor fascinado por figuras femininas particulares.
Nota: ★★★☆☆
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