Rede de Intrigas é o melhor filme já feito sobre o mundo da televisão. E é o melhor filme de seu diretor, Sidney Lumet. Com um roteiro afiado de Paddy Chayefsky e um elenco em seus melhores dias, Lumet compõe a loucura de seu tempo, quando o jornalismo comprometido perdia espaço e dava vez ao espetáculo barato.
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Continua verdadeiro e até atual: retrata a busca desenfreada pela audiência. Por ela, permite-se tudo, ou quase: a aliança da emissora com grupos criminosos, um homem enlouquecido à frente de um programa popular e até mesmo um crime ao vivo. Lumet apresenta assim as regras – ou a falta delas – desse grande circo consumido por milhões.
Suicídio anunciado
O apresentador do programa, um tal Howard Beale (Peter Finch), precisou anunciar o próprio suicídio, em cadeia nacional, para voltar ao centro do jogo: passou assim de coadjuvante em fim de carreira à profeta da televisão. Suas doses de loucura não o retiram de cena. Ao contrário. Uma produtora sedenta por audiência, Diana Christensen (Faye Dunaway), vê nele a possibilidade de salvar as finanças da empresa.
“Não vou suportar isso!”
O grito do profeta, repetido várias vezes, tem desespero e toca o espectador: “Estou muito bravo e não vou mais suportar isso!”. Sinal dos tempos. É da América maluca que fala Lumet nesse grande filme. Ao proferi-lo, o profeta pede que os outros gritem alto, para fora de suas janelas. É prontamente atendido. Para o delírio de Christensen – e para a estranheza do amigo Max Schumacher (William Holden) –, a audiência vai às alturas.
Orgasmo
Enquanto parece levar Max ao amor de juventude, quando correm ao quarto para fazer sexo, Christensen não para de falar sobre televisão. Torna-se uma máquina de informações e números. À medida que o plano de sucesso dela ganha mais e mais detalhes, a tensão sexual também aumenta. Culmina no orgasmo. É um entre outros momentos geniais do roteiro de Chayefsky, ganhador do Oscar.
Despedida
Os poucos minutos Beatrice Straight são inesquecíveis. Momento forte em que ela, mulher de Max, recebe a notícia do próprio sobre sua relação extraconjugal – justamente com Christensen. “Diga alguma coisa, pelo amor de Deus”, pede a mulher. “Não tenho nada a dizer.” Pouco depois, ela ainda o questiona sobre os sentimentos da outra. O roteiro dessa relação, ele diz, está pronto. A outra não tem sentimentos.
Fim do show
Quando Howard deixa de apresentar os números desejados pela emissora e passa a ser um problema ao falar o que pensa, os graúdos de sua empresa bolam um plano para retirá-lo de cena. Desenha-se um crime ao vivo, com a ajuda de um grupo comunista. Com a montagem paralela, o espectador assiste à reunião entre os executivos e à execução do crime, passado e presente, em encerramento brutal e revelador.
SOBRE O AUTOR:
Rafael Amaral é crítico de cinema e jornalista (conheça seu trabalho)
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Esse filme é incrível. Vou fazer uma análise dele em breve no meu blog também. Parabéns pelos pontos listados, só acho que faltou uma menção à cena do Ned Beatty e à participação incrível do Robert Duvall ainda novo, mas já começando a ficar careca, com seus 45 anos à época.
http://288filmes.wordpress.com
A pequena participação de Beatty é realmente incrível. Obrigado pela visita e pela indicação do blog. Abraços!