O Festival de Cannes, realizado anualmente em maio, tornou-se a maior vitrine do cinema mundial. Quando se pensa em qualidade e descoberta de novos autores, ultrapassa, com facilidade, o Oscar, então dedicado à previsão fácil.
Cannes tem como concorrentes os festivais de Berlim e Veneza. Não é o mais antigo deles. A exemplo da concorrência, seleciona sempre inéditos para sua mostra principal, que ao vencedor outorga a Palma de Ouro, em outros tempos chamada de Grand Prix. Tem tapete vermelho, entrevistas concorridas, astros que passam por ali para lançar filmes grandes – não necessariamente grandes filmes. Tem marketing, claro.
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Em sua história, acertou em diferentes ocasiões ao premiar grandes filmes e revelar autores. É hoje quase impossível pensar em uma obra dos Irmãos Dardenne ou de Haneke fora de Cannes. Ao cinéfilo, é comum esperar por maio, quando a seleção à Palma aponta ao melhor do cinema mundial. Abaixo, a lista com os 20 melhores ganhadores do festival – segundo a opinião do Palavras de Cinema.
20) Se…, de Lindsay Anderson
Depois de 68, quando o festival foi cancelado, a Palma caiu no colo de Anderson e seu filme sobre jovens rebeldes de colégio interno dominado por padres e moralismo.
19) O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte
Único brasileiro ganhador da Palma. Há uma história (não se sabe se verdadeira) de que os aplausos da consagração do filme de Duarte teriam sido puxados por Truffaut.
18) O Show Deve Continuar, de Bob Fosse
O Oito e Meio de Fosse, obra magistral em que o artista debruça-se sobre si mesmo, com seus vícios, lembranças, suas formas de criação e a escolha da próxima companheira.
17) M.A.S.H, de Robert Altman
A guerra feita de nenhum combate, com o riso na medida certa, seus médicos endiabrados em tendas sujas, seus golpes para colocar todos em perfeita anarquia.
16) Sob o Sol de Satã, de Maurice Pialat
Pialat chegou a ser vaiado em Cannes ao receber a Palma de Ouro. A obra está entre as mais poderosas a abordar a religiosidade, representando uma guinada na carreira do diretor.
15) Senhorita Julia, de Alf Sjöberg
Maravilhoso conflito de classes passado em poucas horas, a partir da peça de August Strindberg. Em uma grande casa, um serviçal confronta e flerta com a filha do patrão.
14) O Mensageiro, de Joseph Losey
Empurrado à Europa pelo macarthismo, Losey produziu grandes obras e ganhou uma merecida Palma por uma das melhores, sobre um garoto de recados entre dois amantes.
13) Pulp Fiction, de Quentin Tarantino
A explosão começou em Cannes. Depois chegou ao Oscar. O diretor independente revelar-se-ia acima da média, com os pés fincados em referências a mestres do passado.
12) Paris, Texas, de Wim Wenders
O diretor alemão – da geração do novo cinema feito em seu país – já havia sido indicado à Palma outras três vezes e se consagrou com esse grande filme sobre reconciliação.
11) O Salário do Medo, de Henri-Georges Clouzot
Chamado de “Hitchcock francês”, Clouzot moldava a narrativa com perfeição. Em cena, as personagens viajam por estradas esburacadas com porções de nitroglicerina na bagagem.
10) A Árvore dos Tamancos, de Ermanno Olmi
Filme neorrealista realizado fora do período, longo e de uma simplicidade absurda (no melhor sentido do termo), todo feito com verdadeiros camponeses de uma província.
9) O Piano, de Jane Campion
Drama profundo, às vezes frio, quase sempre escuro, sobre uma mulher muda, sua filha expressiva e dois homens em conflito – além do piano, objeto que move a história.
8) Portal do Inferno, de Teinosuke Kinugasa
Poucas vezes as cores serviram tão bem ao cinema. Simula um épico sobre revolução, mas parte para uma história de amor: ao centro, um homem que deseja tomar uma mulher à força.
7) Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola
Coppola era um diretor consagrado quando ganhou sua segunda Palma. O filme, sabe-se, teve produção tumultuada e levou anos para ficar pronto. A demora compensou.
6) Blow-Up – Depois Daquele Beijo, de Michelangelo Antonioni
Grande Antonioni, talvez o maior. Seu primeiro filme falado em inglês, sobre um fotógrafo em dúvida: por acaso, em um dia no parque, ele acredita ter registrado um assassinato.
5) Taxi Driver, de Martin Scorsese
O táxi brota da fumaça, na abertura, e fornece a pista do que viria a seguir: a imersão de uma personagem errática pela Nova York suja e violenta dos anos 70.
4) A Conversação, de Francis Ford Coppola
O herói chega a destroçar a imagem da santa, ao fim, para tentar encontrar o grampo. O detalhe não passa incólume: nada supera o medo de ser vigiado. Nem a fé.
3) A Doce Vida, de Federico Fellini
Um dos melhores exemplos do então agitado cinema moderno, no qual as personagens não parecem fazer nada, celebram o vazio, ao passo que Fellini prova ser um gênio.
2) O Terceiro Homem, de Carol Reed
O melhor filme já feito sobre o pós-guerra. A personagem de Joseph Cotten procura pelo amigo morto e este retorna, mais tarde, como Orson Welles, para a surpresa geral.
1) O Leopardo, de Luchino Visconti
Grande em tudo. Em cenários, figurinos, atores, direção. É o que se espera de um filme histórico, que expõe as transformações da Itália, a passagem da nobreza à burguesia.
Veja também:
Bastidores: A Conversação
Cinco momentos inesquecíveis de Taxi Driver
Tente escrever mais sobre os filmes, porque que eles estão na posição que estão, texto ta muito fraco e a lista não tem critérios 😉
A proposta da lista não é trazer comentários aprofundados sobre cada filme. Para tanto, o blog tem espaço para isso, com diversas análises de diversos filmes (veja aqui: https://palavrasdecinema.wordpress.com/filmes/). Sobre o fato de não ter critério, por favor, releia a lista. O critério é claro: só entram filmes que ganharam Cannes. Simples. Volte sempre.
“O Piano” me decepcionou. Achei o filme meio aborrecido. O final me deu raiva: o melhor seria a personagem afundar no mar junto com seu piano, mas parece que os produtores não gostariam de ter um final “triste” e arrumaram uma total redenção. O mesmo aconteceu com “Blade Runner”: arrumaram um final bonitinho, mas a edição original do diretor foi muuuuito melhor.
Gosto muito de O Piano. Acho o final, apesar de tudo, triste. No caso de Blade Runner, concordo: o final da versão do diretor é superior. Abraços, volte sempre.