Um assustado Bruce Wayne corre pela cidade em ruínas, lança-se na poeira, nos escombros, e depois observa Superman em luta com um ser de outro planeta. É o encerramento de O Homem de Aço pelo ponto de vista de outro herói, Batman.
Dessa união entre universos, ponto de partida de Batman vs Superman: A Origem da Justiça, tem-se o resumo do que vem pela frente: o que mais importa é Batman, ainda que todo o resto pertença a Superman, como seu universo e seu vilão, Lex Luthor.
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Os problemas ainda rondam o mundo de Superman, mais que o de Batman, ainda que o segundo seja mais perturbado, entre sonhos, caminhadas sob pouca luz, passagem por túmulos e talvez a crença de que algo sobrenatural seja possível, e deva ser temido.
Pois quando Bruce Wayne descobre sua ligação com o morcego, ou com os morcegos, ainda criança, ele é levado pela força dos seres subterrâneos: em estranha composição, a sugerir o sobrenatural, o menino levita com a força do vento criada pelos bichos.
Sai daí, talvez, a crença de algo mais – não meramente humano e relacionado à tecnologia exacerbada – e que o faça sentir medo de Superman. “Medo” talvez não seja a palavra certa: Batman não consegue entender esse redemoinho estranho, a beleza que expõe o rosto, que parte do céu ensolarado, e que representa seu exato oposto.
Afinal, o Homem de Aço é um alienígena e, por mais paradoxal que pareça, representa o “humano perfeito”: forte, justo, belo e às vezes até humilde. Alguém cuja máscara não o esconde em excesso, alguém que parece um homem. Apenas os óculos separam o sério Clark Kent de Superman – o que sem dúvida é ingênuo.
De Wayne a Batman, a passagem é maior: veste-se máscara espessa para esconder o humano do herói. Mais tarde, quando decide enfim lutar com Superman, a máscara será ainda mais pesada: tentará se tornar o próprio “homem de aço”.
E se essas representações parecem tão excitantes, o filme de Zack Snyder nada faz senão lançá-las a um tolo espetáculo de correria, escuridão (literal) e heróis tentando resolver seus problemas enquanto são previsivelmente marionetes do vilão.
Ninguém duvida que Lex Luthor (Jesse Eisenberg), o adolescente desmiolado, seja capaz de controlá-los. Pois é o que um filme como tal representa: o controle absoluto do adolescente, então dotado de poder, para quem não existe nada mais do que bem e mal, dia e noite, Deus e o homem. Ou seja, tudo será maniqueísta.
Até sua metade, Batman vs Superman tenta trabalhar suas peças com calma. O tabuleiro do conflito desenha-se com intensidade e sabor. A calma dá vez à correria quando se espera justamente algumas palavras de Superman, ao ser interrogado no Capitólio.
Menos palavras, mais ações: o local do depoimento, da suposta afirmação humana do alienígena, é reduzido às cinzas, e entre o fogo é possível ver o rosto desapontado de Superman. A partir de então, Snyder, para fazer tudo se encaixar em pouco tempo, apela à ação descerebrada, composições nas quais é preciso forçar a vista para ver algo.
A Mulher Maravilha (Gal Gadot) nada tem a oferecer senão o convite a seu filme solo; Louis Lane (Amy Adams) será apenas uma garota de recados, para explicar algumas situações ao público; e Lex tenta causar medo com seus dedos agitados, sem sucesso.
De Henry Cavill vê-se o mesmo. A novidade, Ben Affleck, poderia convencer fosse ela apenas a identidade secreta. Mas Wayne deve ser obscuro, perturbado, pois, caso contrário, sua natureza não se justifica: por que um milionário vestiria uma fantasia de morcego e sairia pela noite para combater o crime e restabelecer o equilíbrio?
A pergunta não cabe, argumenta um fã de quadrinhos. A natureza dos heróis é como parece ser. Pois o mundo deles talvez seja um pouco mais plano. Ao contrário de Watchmen, também de Snyder, no qual os super-heróis tentam invadir o universo dos humanos, em Batman vs Superman os humanos fracassam nessa tentativa de invasão.
(Batman v Superman: Dawn of Justice, Zack Snyder, 2016)
Nota: ★★☆☆☆
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Não vi o filme ainda, mas apenas pelos trailers já dá pra se prever um longa com muita história pra contar. Não é à toa que passa das 2h30, ou seja, uma pequena eternidade