O que é forte em A Liberdade é Azul: uma mulher, após a morte do marido e da filha, frequenta regularmente uma piscina. Cada vez que mergulha, deixa a sensação de que pode não voltar nunca mais. Também é forte, no filme do polonês Kieslowski, o modo de representar Paris, uma cidade a cujo encanto os cineastas franceses costumam resistir. O que é fraco: a história da composição de uma sinfonia dedicada à Europa, que atravessa quase todo o filme. A música (a arte) entra um pouco como substituta da dor. Como se a arte resgatasse as vidas perdidas, mas também evocasse tudo o que a Europa foi (em termos de destruição) antes de encontrar a harmonia de um concerto. Pode-se louvar a boa intenção e registrar sua ineficácia. Ela serve, basicamente, para garantir o estatuto “artístico” da empreitada.
Inácio Araújo, crítico de cinema, na Folha de S. Paulo (junho de 2009). Na foto, o diretor polonês Krzysztof Kieslowski, que, após A Liberdade é Azul, dirigiria A Igualdade é Branca e A Fraternidade é Vermelha, compondo sua Trilogia das Cores.
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