Ao longo de Vingança ao Anoitecer, de Paul Schrader, Nicolas Cage tenta parecer perturbado – como exige sua personagem – e violento, de palavras fortes, o que faz engraçado de maneira involuntária.
Seus deslizes têm explicação: o ator não consegue mais recuperar os bons momentos de antes e se tornou caricatura com marca própria: Nicolas Cage. A cada filme, é o mesmo, o tipo assustado, perdido, lábios trêmulos, expressão única.
Em Vingança ao Anoitecer, volta ao mesmo homem artificial, aqui um agente da CIA colocado de lado por seus parceiros e na caçada de um terrorista com quem já havia se encontrado, acabou perdendo e nunca esqueceu.
Como em outros filmes de Schrader ou roteiros que escreveu, é sobre o caminhar de um obsessivo. É o tipo de personagem que acredita que as coisas só se resolvem com seu esforço, patriota, mas desconfiado do sistema – o que explica a bandeira americana com seu centro queimado, emoldurada na parede de sua casa.
O símbolo destruído reflete a personagem, Evan Lake, quando está abalada, após descobrir ter uma doença cerebral e degenerativa, que a levará à demência. Ao mesmo tempo, Lake confirma que um terrorista que o torturou vinte anos antes continua vivo e, como ele, está à beira da morte, fazendo tratamento com um medicamento raro.
Informações sobre a compra dessa substância levam o agente – a essa altura expulso da CIA por dizer o que pensa a seu superior – à Romênia e depois ao Quênia. À frente de grandes filmes no passado, Schrader não salva o material e o tão esperado reencontro entre herói e vilão é decepcionante, sem emoção.
A história do agente em busca de vingança esconde o verdadeiro tema do filme: lidar com a morte. Herói e vilão encaram o momento de diferentes formas. Enquanto o primeiro parece se conformar com a questão e esteja até disposto a colocar fim a seu sofrimento, o outro, moribundo, faz de tudo para continuar vivo.
A obsessão do agente Lake tem a ver com patriotismo, com princípios – o que só faz o filme parecer ingênuo, tolo, com aquela mensagem pós-11 de setembro, quando é necessário desconfiar das instituições, “dos homens do presidente”.
No fundo, mais parece uma personagem à moda antiga, mas cercada por tensões modernas e com um caso de amor deixado na Europa (a bela Irène Jacob). Talvez esse homem – e esse cinema – realmente seja produto do conservadorismo. Ou do espírito de que só é possível fazer justiça pela força individual, com o homem à frente.
Claro que terá defeitos e excessos. É assim com as personagens de Schrader: o bem e o mal convivem lado a lado, e às vezes o retrato do mal produz, aos olhos alheios, a falsa ideia de heroísmo, como ocorre com o protagonista de Taxi Driver.
Após sua matança e busca por justiça, Travis Bickle (Robert De Niro) é tratado como herói por libertar uma garota da prostituição. Nos dois filmes, próximos ou não do poder, os homens de Schrader não podem virar o jogo senão pela força própria. Até o fim, fiéis aos seus princípios.
Nota: ★☆☆☆☆
Seus deslizes têm explicação: o ator não consegue mais recuperar os bons momentos de antes e se tornou caricatura com marca própria: Al Pacino.
Me parece servir também para descrevê-lo.
Um caso a pensar. E talvez seja o caso de aplicar a De Niro também, não?