Romance Policial, de Jorge Durán

Em busca de sua história, Antonio (Daniel de Oliveira) passa a ser uma peça entre outras, alguém que não caminha senão com suas próprias palavras: uma personagem. Em Romance Policial, ele descobre a impossibilidade da onisciência. Para chegar ao fim de sua história, precisa também vivê-la, precisa resistir.

O filme de Jorge Durán é sobre a viagem externa e interna desse rapaz. É sobre a busca dessa história. Começa com a escalada da montanha, com o olhar ao todo: a história é essa amostra de energia, difícil caminhada ao desconhecido.

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Do alto, encostado em uma pedra, o rapaz recorda: alguns meses atrás, ele ainda estava no Rio de Janeiro, em seu emprego comum, sem as palavras, amargo. Pela rua, tomado por sensibilidade, pensa nos perdidos da multidão, no que pensam.

O problema do escritor – a ausência das palavras – leva à loucura. Ele precisa escrever, e busca sua própria saída. Precisa da experiência e, para tanto, o jeito é se deslocar. Não há outro caminho senão o do desconhecido.

Antonio segue ao deserto do Atacama, no Chile. Toma carona. Aos poucos, vive e dá forma à sua história – ou às duas coisas ao mesmo tempo. O espectador entenderá o quanto é difícil separá-las: em certo sentido, a vida não pode ser assim tão repleta de coincidências e, ao mesmo tempo, as coincidências talvez sejam acaso.

O espectador pode até mesmo escolher seu caminho: pode acreditar que tudo não passa de imaginação, em um filme sobre um escritor em busca de sua história enquanto sobe a montanha; ou pode acreditar que Antonio viveu aquelas situações.

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No Chile, enquanto andava de bicicleta pelo deserto, o rapaz encontra o corpo do homem que havia lhe dado carona. Por estar em terra desconhecida, prefere não dar queixa e seguir viagem. O problema é que ele perde os documentos e, ao voltar ao local do cadáver, é detido pela polícia como suspeito do crime.

Em paralelo, Antonio envolve-se com Florencia (Daniela Ramírez) e é seguido por um policial (Álvaro Rudolphy). O crime pode ser apenas a representação da impossibilidade do escritor de comandar os acontecimentos de sua história.

Pelo deserto, a certa altura, esta lhe escapa: ele passa a ser parte dessa história, a vê-la em seu interior, sem saber quem são todas as peças. Pode se envolver com a bela garota, apaixonar-se por ela, e descobrir que suas personagens são capazes de traí-lo.

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Como uma personagem de Antonioni, perde-se no deserto de suas próprias descobertas, reinventa-se ao passo que encontra novas personagens. A exemplo do protagonista de Profissão: Repórter, que assume outra identidade para mudar de vida.

Romance Policial é também um filme sobre identidade, já que o escritor busca terras estrangeiras para se descobrir – para escrever e, assim, não enlouquecer. A perda dos documentos também indica sua posição como desconhecido, como o suspeito de saber tudo sem saber quase nada, limitado a esperar o desfecho.

As explicações finais, sobre o passado de Florencia, tiram força da obra de Durán. São desnecessárias. De qualquer forma, o escritor continuará pelo deserto, pelas rochas, em busca de sua história, de si mesmo.

Nota: ★★★☆☆

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