Felicidade, definiu Ingrid Bergman, é ter boa saúde e má memória. Lutar contra a memória, em seu caso, explica algo sobre sua vida, talvez seus arrependimentos, o que falaram dela. Figuras públicas pagam caro quando escandalizam.
No caso da grande atriz, famosa por fazer mulheres fortes, e que mais tarde deixaria a América para viver uma história de amor real com Roberto Rossellini, houve um preço a pagar. Ao olhar puritano, nos anos 40, seu gesto é imperdoável: a grande atriz deixou marido, filha e o contrato com Hollywood para viver com Rossellini.
A história é sedutora, um pouco cinematográfica. O público que poderia aplaudir a ficção de Casablanca e seu triângulo amoroso não poderia aplaudir o gesto de Ingrid Bergman. Vale lembrar que o amor por Rossellini, primeiro, nasce nos filmes: a atriz ficou espantada depois de assistir Roma, Cidade Aberta.
E vieram os filmes com o mestre italiano. Um deles explica, em ficção, um pouco sobre a situação da atriz, contra tudo e contra todos: Stromboli (foto abaixo), sobre uma sobrevivente de guerra levada à ilha do título, local em que enfrenta os outros e o próprio marido.
A condição da mulher é expressa com perfeição por Ingrid. Não poderia ser a desejada serviçal. Enfrenta conveniências com todas as forças. Enfrenta até um vulcão.
Sua ida à Itália deixou homens tristes. Entre eles, Alfred Hitchcock, que tinha a atriz em sua linha de frente. O melhor filme dela com o mestre do suspense é, sem dúvida, Interlúdio, no qual faz par amoroso com Cary Grant.
As primeiras cenas incluem Ingrid embriagada e o beijo com Grant, longo, está entre os melhores da história do cinema. Mesmo quando aparentava a mulher frágil, Ingrid era forte demais: em Interlúdio, aceita casar com um colaborador nazista para ajudar os americanos em suas investigações, entre eles a personagem de Grant.
O ator lembra o poder de Ingrid no auge dos grandes estúdios: “Há apenas sete estrelas de cinema no mundo cujo nome vai induzir banqueiros americanos a emprestar dinheiro para produções de cinema, e a única mulher na lista é Ingrid Bergman”.
Sua sedução é imensa. A imagem não deixa mentir. E a personagem de Humphrey Bogart, ao reclamar da presença dela em seu bar, em Casablanca, dá exata noção do peso dessa mulher, dentro e fora das telas. Impossível discordar dele.
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