A tentação de levar Adolf Hitler ao cinema não significa tentar entendê-lo. Na verdade, alguns dos melhores filmes com o líder nazista são farsas ou incluem sua figura apenas de passagem. Hitler, com o passar dos anos, tornou-se uma personagem: o jeito de erguer a mão, o bigodinho, a maneira imponente.
Alguns documentários ajudam a reforçar essa imagem. Outros, curiosamente, buscam mostrar o homem por trás da imagem. Em qualquer caso, difícil encontrar substância sólida para descrever quem ele foi. O que explica, também, por que se tornou prato cheio à sátira: na dúvida e com tal imagem, nada melhor que desconstruí-la.
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Serviu à perfeição para Chaplin brincar com o globo, para parecer bobo enquanto caminhava ao lado de Mussolini. Ou ainda no exagerado Minha Quase Verdadeira História, no qual aparece como menino mimado, quase alheio às atrocidades da guerra. Os filmes abaixo não tentam compreender Hitler. Abusam de sua imagem, entre a diversão e a loucura, entre o homem soturno e a criança desamparada.
O Grande Ditador, de Charles Chaplin
Segundo o grande crítico André Bazin, foi Hitler que tomou o bigodinho emprestado de Chaplin, não o contrário. O filme tem momentos marcantes, como a dança com o globo e o famoso discurso final – como se vê, um discurso do próprio Chaplin.
O Homem que Quis Matar Hitler, de Fritz Lang
Perto do castelo de Hitler, pela floresta, um atirador chega a voltar seu rifle contra o inimigo, mas termina preso. A obra de Lang aborda a perseguição dos nazistas ao herói (vivido por Walter Pidgeon) pela Inglaterra, pouco antes de a guerra estourar.
Ser ou Não Ser, de Ernst Lubitsch
O mestre Lubitsch mistura teatro com o clima da Polônia pouco antes da Segunda Guerra – e tudo embalado pela comédia sofisticada, típica do cineasta. Vale tudo nessa bela farsa, incluindo a aparição de um substituto para o líder nazista.
Esse Mundo é dos Loucos, de Philippe de Broca
Em plena Primeira Guerra Mundial, um jovem Hitler surge de passagem e é vivido pelo próprio diretor Philippe de Broca. Trata-se de uma brincadeira curiosa, já que o líder alemão mais parece um garoto mimado, menos que coadjuvante de luxo.
Primavera para Hitler, de Mel Brooks
Mais uma vez, a imagem do nazismo e de seu líder maior mescla-se ao teatro: o poder torna-se brincadeira. A peça é levada à frente pelos produtores para ser um fracasso. A ideia dá errado. A peça torna-se um sucesso. E o filme de Brooks faz rir sem parar.
Zelig, de Woody Allen
O camaleão Zelig está em todos os lugares, pede passagem pela história. Na imagem abaixo, ele aparece ao fundo do verdadeiro Hitler, durante um de seus longos discursos. O recurso de imagem seria repetido depois em Forrest Gump: O Contador de Histórias.
Moloch, de Aleksandr Sokurov
A primeira parte da Tetralogia do Poder de Sokurov não poderia abordar outro líder senão o alemão. Obra obscura, densa, com composições típicas do cineasta: o chanceler, ao mesmo tempo comum, é como parte de um quadro, em estranha beleza.
A Queda! As Últimas Horas de Hitler, de Oliver Hirschbiegel
Narra os últimos momentos do homem, quando se dá conta da derrota durante a Segunda Guerra. Em cena, o desespero de dentro para fora, a relação com os subordinados, com a família, e a interpretação marcante de Bruno Ganz.
Minha Quase Verdadeira História, de Dani Levy
Enquanto é aconselhado por um ator judeu, Hitler (Helge Schneider) chora ao lembrar sua relação conturbada com o pai. Mais uma vez, torna-se o garoto chorão, manipulado pelos homens ao seu lado, sobretudo pelo esperto Joseph Goebbels.
Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino
Não é de estranhar que o filme de Tarantino termine em um cinema, com a tela em chamas, com a vingança de uma moça judia e Hitler entre os espectadores, prestes a ser metralhado pelos homens de Aldo Raine (Brad Pitt). Afinal, é um filme de Tarantino.
Excelente lista! “O Homem que quis matar Hitler” é um filme surpreendente, e acredito que deve ser mais conhecido!
Abraço!
Letícia
Sem dúvida deveria ser mais conhecido, assim como outros grandes filmes da fase americana do Lang, como “Fúria”, por exemplo. Volte sempre! Abraços!
Tb achei a lista excelente. Além disto, os resumos estão escritos na medida certa, sem excessos e com o suficiente para nos informamos. Torcendo para que vc escreva muito mais textos. Parabéns.
Obrigado, escreverei sempre mais. Volte sempre.